Anoitece na vila.
As estradas rasgadas,
cicatrizadas,
da povoação a ficar vazia.
Sem almas perdidas,
penadas.
Começam logo pela matina.
Levantam-se derrotadas,
falhadas,
levadas pela rotina.
Todas atarefadas,
apressadas,
atravessam assim o dia.
No trabalho amarguradas,
frustradas,
sem a recompensa prometida.
Continuam esperançadas,
abandonadas,
na sina resignada.
Andam distraídas,
acomodadas,
sem revolta destemida.
Voltam para casa sossegadas,
aconchegadas,
sem dar pelo passar da vida.
De noite recolhidas,
cansadas,
no lar que lhes dá guarida.
No sofá sentadas,
entretidas,
não repararam na rua rasgada,
nem nas palavras dadas.
Iludidas,
esquecem a promessa não cumprida.
Ficam as excelências perdoadas,
absolvidas.
Discursam os políticos de voz comovida,
desculpas mal paridas,
ofensivas.
Escuta indiferente a manada.
Cantam mentiras descaradas,
desavergonhadas,
ao Zé Povinho de orelha enganada.
O progresso nas estradas,
remendadas,
baboseiras de cobardia escondida!
fingidas,
a quem não entende mais nada.
Sobram a ruas cicatrizadas,
maltratadas.
E a revolta fica castrada...