segunda-feira, maio 29, 2017

Tempus est e somno expergiscendi


De repente fez-se silêncio e eu acordei!
Não sei para onde foram os outros, nem o ruído que os acompanhava. Apenas soube que despertei, sem a dormência do mundo na sua azáfama.
Senti-me vivo no meio daquele sossego e na quietude do meu corpo. Fiquei, assim, feliz!
Não consigo precisar quanto tempo durou aquele momento. Somente que entrou em mim uma energia com a cor da Paz.
Fiquei imóvel. Se não estivesse sozinho diria, quem me olhasse, que eu estava louco, ou talvez drogado com uma substancia qualquer. Não imaginariam eles, de que eu estava mais lúcido do que alguma vez estivera. Que podia resumir a perfeição àquele breve instante. Meros segundos que a ignorância do relógio teima em contar.
Olhei a cidade inerte, prestes a retomar a sua confusão. Dei conta do seu veneno a corromper a essência da alma. Os sentidos estremecidos pelo grotesco das sensações. Tudo assente numa grandiosa fragilidade a alimentar a ilusão de quem julga sonhar.
É esta a estranha linguagem do Universo, a acariciar os seus próprios fragmentos de consciência. Aqueles que desejaram provar a debilidade da carne.
Depois há um carro que acelera, passos que ecoam pela calçada, vozes que palreiam entre si. Tudo volta onde é suposto estar. Cai de novo o adormecer sobre mim. Mas não sem antes conseguir guardar a sabedoria que roubei àquele escasso estímulo da percepção.
Voltei ao meu caminho.
De repente fez-se confusão e eu adormeci…

quinta-feira, maio 25, 2017

Já foste à internet hoje?


Já viram a quantidade de frases feitas que pairam na internet?
Se conseguir ler metade delas, creio que fico com um doutoramento, ou dois, de filosofia para ter à mão. Posso até tornar-me mestre nessa arte. Tirar um curso na “universidade da vida”, como contam alguns perfis nas redes sociais.
Gosto de as ler. São como cartões que servem de instruções para viver. Faz isto, faz aquilo. Pensa assim, pensa assado. Eles são loucos, eles são invejosos. Podia fazer umas quantas teses, só com essas citações tiradas do intelecto iluminado de um génio qualquer, que viu os seus pensamentos serem partilhados a torto e a direito, sujeitos a qualquer interpretação.
Sempre que me atravesso com uma destas leituras rápidas, não deixo de me interrogar se aquilo é levado a sério, ou é apenas uma publicação cujo intuito passa apenas por ser bonito?
Deixo, como deve acontecer, o impulso de julgar os outros de lado, pois cada um tem o seu caminho e as suas escolhas. Quem sou eu para criticar?
Olho para mim e para a minha própria aprendizagem. Analiso os trechos que decido assimilar, e também distribuir com o mundo. Frases que sinto verdadeiramente que fazem parte de mim. Uma ou duas linhas de pura sabedoria que encerram em si todo um infinito de ideias, resumidas a uma simples partilha no ciberespaço.
Cheguei à conclusão que todos que o fazem dão um pouco de si. Seja muito ou pouco, trata-se de um ensinamento e tal como qualquer outro ensinamento, decidimos guardar, ou simplesmente esquecer…
Já viram a quantidade de vidas por acontecer que pairam na internet?

sábado, maio 20, 2017

A Poesia mais Perfeita


Quem ama a vida também ama a Primavera, assim como quem ama a alegria também ama as cores do arco íris.
O sol tranquilo e os sons da criação, revitalizam a energia de que é feito o universo, as estrelas e os sonhos.
A natureza renasce, assim como quem não se acomoda renasce a cada descoberta. Em cada ciclo que passa vai acontecendo uma pequena mudança e ao longe tudo fica diferente.
Cada destino alcançado, vai enriquecendo o caminho daquele que viaja em busca da sabedoria, sabendo que, algures no seu destino, vai encontrar a sua própria paz de espírito.
Os bosques cantam o seu verde, assim como os homens cantam o dia. Louvam-se os deuses pelo dom da existência. Tocam-se os corpos agradecendo o dom de amar.
Germinam as sementes plantadas. Crescem com a força com que a mãe Terra as impulsiona.
Tudo tão simples. Tudo tão belo. Tudo tão perfeito. Quem ama a vida também ama a arte e engrandece toda esta poesia, pois nela vê o segredo da felicidade…

terça-feira, maio 16, 2017

A amizade (O Narrador IX)


Cá estamos novamente a narrar as amarguras da vida!
A verdade pode ser muito dolorosa, ou pelo menos, extremamente aborrecida.
Estás num daqueles momentos de clareza existencial absoluta em que percebes que os que te rodeiam e te são mais próximos, a quem, no mínimo de interação social que te resta, denominas de ‘amigos’, não passam de pessoas enfadonhas. Gente que, apesar de terem no seu íntimo a semente da inquietude, preferem entregar-se ao discurso fatigante sobre as banalidades humanas. Sentes um cansaço na alma só de os ouvir!
Pois bem! Para o diabo que os carregue!
Abandona-os. Entrega-te tu ao silêncio e à tua própria solidão. Não deixes que essas sanguessugas, a coberto da moral do sentimento da amizade, te roubem o tempo, os devaneios e a pouca paz de espírito que tanto fizeste para merecer.
São como vampiros a drenar-te a energia anímica, enquanto tomam a tua atenção com as suas histórias enfadonhas sobre as vulgaridades do dia-a-dia. Já reparaste no cansaço que se abate sobre ti quando se vão embora?
É isso que fazem: cansam! Roubam! Contaminam a positividade que existe em ti! Desgastam essa energia que te é essencial, sem nunca a chegares a usar em quem devias: na tua própria pessoa.
Vira-lhes as costas e deixa-os a falar para a tua ausência. O que não te falta são caminhos a percorrer. Além disso, o que há com abundancia no mundo são vozes com algo a dizer. Por isso não fiques aí na paralisia do que te ensinam que “assim é que deve ser”. Faz isso, faz aquilo, porque assim é que é correcto. Mentira! Apodreces sem história em dias seguidos de momentos iguais, até que um dia o espelho te diga que o tempo passou e tu desapareceste com ele.
Todas aquelas frases feitas que são partilhadas na internet, com imagens todas bonitas, a bendizer a amizade são uma grande mentira. Um aconchego para tentar iludir o vazio que a individualidade te impõe. Chegas à conclusão de que quem as inventou não tinha vida própria. Restou usar palavreado bonito para iludir umas quantas pobres almas a dar-lhe atenção em troco de ilusões vazias.
Analisas as fotos partilhadas nas redes sociais onde te ‘marcaram’ com toda a pompa e circunstância. Toda a gente a posar para a câmara. Todos com sorrisos abertos, cheios de alegria para provar em imagem que a felicidade habita naqueles corpos. Pois bem! Dou-te as boas vindas ao palco da vida onde todos são actores numa peça de teatro! Sem esquecer que todos são em simultâneo espectadores duma felicidade encenada!
Onde está a tua alma no meio disto tudo?
A gritar por um pouco de verdade!
São estes os teus ‘amigos’! Os mesmos que te magoam e a quem tu magoas de volta, como se fosse um jogo a imitar um filme ou uma novela. Somos todos heróis, sem que ninguém queira interpretar o papel de vilão. Talvez nessa posição se encontre um pouco de verdade, pois os maus da fita terminam sempre sozinhos.
A solidão!
Já aqui estivemos tantas vezes… A narrar as maleitas e potencialidades deste sentimento incompreendido. No entanto, se não me turva a memória, nunca o fizemos em contexto de amizade. Quando um ínfimo de inocência que vive (e sempre viverá) em ti, procura a salvação na frágil moralidade de outro ser humano qualquer. O resultado dessa equação termina quase sempre em desilusão!
E tu sabes bem disso. Estudaste essa lição vezes e vezes sem conta para falhar no teste constantemente. Se tens de culpar alguém porque te magoaram, essa pessoa és tu!
Só tu!
Apenas tu!
Não és o centro do mundo e ninguém te deve nada. Sobra a eterna culpa de esperar alguma coisa dos outros como um mendigo implora uma esmola.
Faço um pouco de silêncio para que possas percorrer a berma do abismo, entre a verdade e o choro.

Agora, depois de o teu espírito acordar. Louvo-te por ainda tentares viver a amizade, mesmo que esta só tenha o destino de magoar. O amor tem muitas faces e os amigos são uma delas.
Para além do que a solidão oferece, existem os outros, que tal como tu escolheram um caminho. Seja por que motivo for, é essa estrada que seguem. Não nos cabe a nós julgar e muito menos exigir que nos agradem. Ou vice-versa…
A criança que um dia foste, a brincar no recreio e que acreditava em contos de fada, ainda reside num canto qualquer do teu fado. E seja porque motivo for, continua a pesar nas tuas escolhas, mesmo que estas levem à decepção.
Acreditar no impossível pode parecer um ‘cliché’ bonito para se publicar na internet mesmo que a alma doa. Ainda assim acreditas. Para além da religião, filosofia ou novelas. Acreditas que tudo pode ser melhor. Isso é bonito. É como um dom. Um tesouro que te torna especial…
Perdoa-me a dureza das palavras. Só quero que a mágoa te passe ao lado.
No entanto, de que vale isso se sem a tua inocência continuas sem chegar a lado nenhum?
Deixo-te por agora.
Já tomei muito tempo da tua atenção na minha função de narrar…

sábado, maio 13, 2017

O Encontro


Num instante olho para ti quando te aproximas. Algo na minha inquietação faz com que me questione quem és tu?
Não tenho intenção de te conhecer. No máximo cumprimento-te secamente, assim que nos cruzarmos e os nossos olhares concordarem, se o universo assim o desejar. Somente isso.
Para mim não passas de uma interrogação. Uma história que ninguém me contou. Um mundo que está longe e não me atrai. Apenas isso. Ou tudo isso! Porque na vida existem incontáveis encontros insignificantes como este. Gente com alma e sonhos que se atravessa na rua.
Instantes que não servem para nada. Momentos perdidos que têm como destino serem atirados para o baú do esquecimento. Apesar disso, com a sua pequenez, conseguem ao mesmo tempo, preencher o pensamento de quem se questiona sobre a existência…

sexta-feira, maio 05, 2017

«Hello darkness my old friend»


Hoje sinto uma pesada solidão.
Das inúmeras almas que me rodeiam não existe nenhuma que me ofereça um ínfimo de companhia.
Também assim está o meu grito. Calado. A trespassar violentamente os ouvidos surdos que não o escutam.
Percorro, errante, os caminhos sem destino deste labirinto a que chamo mundo.
O universo também decidiu que neste dia não me acolhia como um dos seus filhos no conforto da sua imensidão. Não responde às minhas súplicas, nem tão pouco me revela um caminho para a sabedoria.
Parece que as minhas próprias crenças decidiram virar-me as costas, até que decida acordar da humanidade que subitamente me vestiu.
Sobrou a escrita.
Sem devaneios para descrever, sem aventuras que me impulsionem, nem paixões que nascem, resta a tristeza do momento.
Está na natureza de quem tem carne, repelir a felicidade de vez em quando. Seja porque a vida é cruel, a realidade não é a que esperamos, ou pura e simplesmente porque o acto de ser feliz é contranatura.
Nada mais tenho a confessar. São estes os meus pecados e as palavras também não se querem compadecer de mim.
Não há alento.
Dói esta minha senda solitária…