sábado, outubro 27, 2018

Companhia de quem não a sabe


Amo.
No negrume da minha alma.
No fogo dos meus demónios.
No silêncio da verdade.
Não sinto falta da paixão porque amar estilhaços completa o caos de quem é imperfeito.
O corpo não me pede o toque, nem a vontade animal de saborear o grito de dor e prazer que se solta na pele.
Assustam-me os beijos que te dão a conhecer como porta aberta para a angústia. Mesmo assim sabem a paraíso depois que as palavras falam (ou calam).
Há a telepatia. Silêncios corpóreos esquecidos nos momentos solitários, como companhia de quem não a sabe, ainda assim, não esquece.
Pouco mais há dizer porque já não sei falar de amor.
Desfigurado.
Despedaçado.
Mutilado.
Esmagado sobre o próprio peso do romance.
Castrado com ilusões bizarras de imortalidade.
A felicidade desvaneceu, quando a ditadura do comum a anunciou como decreto a seguir. Sábios e néscios cingiram-se a este objectivo, sem nunca o conseguir, pois nada imaginam do impossível.
Resta a fantasia dos que navegam na insónia que corteja a madrugada.
Dizem poesia.
Dizem heresias.
Dizem ideias perdidas na noite.
Canta-se o teu nome nos sentidos desconhecidos a quem não sonha.
Não existe adormecer, nem vontade de acordar, só os segredos do inefável e o infinito nem começou ainda…

quinta-feira, outubro 18, 2018

Castigo ou recompensa


Hoje o sono é mais forte que a alma. O adormecer é um país maldito. A vida ficou adiada para um amanhã qualquer, se Deus quiser, ou se a vontade lembrar.
Um passado que nunca aconteceu é o resultado do cansaço que sinto. A apatia é o conforto, na fadiga que entorpece o corpo. Algures deve existir o direito à alienação quando o alento se esgota.
A carne tem os seus limites, quando os músculos acusam o desgaste da ausência de ímpeto. O mundo parece desvanecer num pensamento inútil. Nada mais importa a não ser o vazio do descanso, seja ele uma recompensa, ou um castigo a cumprir por desejar viver em demasia.
Dou-me por vencido e faço de mim esquecimento. Queria escrever algo mais na minha história cheia de gloriosas insignificâncias, mas as pálpebras pesam mais do que a sedução da madrugada.

quinta-feira, outubro 11, 2018

Quem se julga apaixonado


Ando à procura da Lua, na noite amena do Outono calado.

Ando à procura de mim, sem pressa de me encontrar, no espelho do céu que escurece lentamente.

Ando à procura de um verso onde me sinta aconchegado, tal como um filho se sente amado no regaço quente da mãe.

Ando à procura das ruas que se esvaziam, purgadas das pessoas que fogem para a ilusão do seu lar.

Ando à procura do oculto, nas estrelas longínquas que desenham os sonhos de quem se julga apaixonado.

Ando à procura das cores que se escondem na noite, como quem acredita na mais profunda felicidade.

Ando à procura de um nome, escrito a dor, no ser incompleto e na pele cicatrizada.

Ando à procura do vazio mais perfeito, sem encontro possível para quem sente a alma inquieta.

Ando à procura do que não sei, porque tudo que conheço não interessa.