sábado, setembro 30, 2017

Je t'aime en noir et blanc!


Amo-te em preto e branco!
Num retrato dito “vintage” entre o tom escuro e o claro, em traços de cinzento. Como quem colheu a beleza hipnótica da melancolia a atrair no teu olhar, a combinar com a sensualidade da tua pele descolorada.
Desenhada como a lápis de carvão na tela da fotografia. No silêncio da falta de cor, confessas-me segredos infindáveis sobre tua feminilidade e chamas-me com a tua voz calada para contemplar o teu vazio.
Por vezes apaixono-me por momentos, ou imagens, que duram a eternidade de uns breves segundos e ficam gravados na mitologia do esquecimento. Não me contento com a insignificância de um mero “para sempre”. Desejo apenas a luxúria de incontáveis infinitos feitos de poesia e pensamento.
Sou feito de instantes. Pequenos nadas que desnudam a pele da realidade. Sonhos e sentimentos que me revelam a essência da intensidade humana. Como este, em que, as sombras da tua imagem me transportam para as rimas da tua verdade. Versos de desalento pintados a preto e branco numa fotografia silenciosa.

quarta-feira, setembro 27, 2017

Enigma do sonho esquecido


Se te lembrasses de todos os sonhos que tiveste até hoje, quantas vidas já terias vivido enquanto estás a dormir?
Mundos grotescos, bizarros, alternativos, para além da barreira da imaginação. Amor, ódio, medos, conquistas, glórias e fracassos cabem todos nesse cosmos incompreensível que se forma na tua mente enquanto dormes.
Rostos desconhecidos em caras familiares, premonições sem sentido, lugares imensos tão conhecidos como estranhos. Passagens sem nexo aparente, ou talvez cheias de verdades insuportáveis. Tudo é enigma quando a mente adormece nos braços da fantasia. Se do sentido da vida pouco se conhece, quem sabe a origem do sonho?
Por algum motivo que nos é alheio, o Universo, na senda da criação, não quis que nos lembrássemos dessas existências extravagantes que acontecem no nosso ser desacordado. Impera que a consciência, como que em tom de rivalidade, remetesse essas recordações ao esquecimento. Uma espécie de passado alternativo sem lugar na bagagem memória.
Mas nem tudo é esquecimento… Agraciamos os pequenos fragmentos de sonho que teimam em permanecer depois do despertar, como uma chamada de atenção. O seu mistério cativa os seres inquietos e marca a impossibilidade de ignorar o que o sono esconde.

terça-feira, setembro 19, 2017

Seja o teu nome vingança!


Parte.
Parte tudo!
Destrói a realidade.
Contenta-te apenas com o caos!
Bruto,
Violento,
Sedento de sangue!
Na pele dos outros,
Carne em agonia,
Bocas em gritos.
Sonhos desfeitos a calar o teu vazio!
Raiva.
Arde em raiva!
Seja o teu nome vingança!
Selvagem,
Implacável,
Justiça pela tua mão!
Onde mora o mal,
Sem misericórdia,
Hipótese de perdão,
No rosto do arrependimento.
Dor manchada na parede do teu querer!
Rasga.
Rasga tudo!
Sem que o passado se escreva.
Desfaz as páginas do livro da mágoa!
Tirano,
Indomável,
Tudo em ti é liberdade!
Não te ditam leis,
Regras castradoras,
Mundo a teus pés.
Alma do desassossego no teu viver!

segunda-feira, setembro 11, 2017

Quem se contenta apenas com o infinito


Existem lugares que, pela sua insignificância, atingem tal grandiosidade que ultrapassam a compreensão. Só aqueles que têm o hábito de contemplar o silêncio podem ousar conhecer um pouco dessa essência.
Sejam pontos onde a natureza tem a liberdade para se exprimir, ou locais onde a arte humana nasceu na imaginação de alguém que por ali passou.
Desenham-se arestas. Produzem-se sons. Emana a Paz!
Não importa o que está além. Quem se contenta apenas com o infinito, ama essa simplicidade, onde o nada se torna imensidão e convida a um momento de paragem para abstracção. Instantes de meditação onde se louva o Universo com todos os seus mistérios e maravilhas.
É assim que se canta uma oração na mente de quem é eternamente insaciável. Só as pequenas coisas podem acalmar a inquietude. Adormece a bravura. Aconchega-se a mansidão. Sem palavras que estraguem o que se fez perfeito. Imenso momento de transcendência…