sábado, março 23, 2013

BEIJAR A POESIA



Hoje escrevo-te um poema de amor. Ou melhor, uma prosa que beija a poesia! Pois são apenas palavras que desaguam em frases que juntas moldam uma carta.
Falo-te de amor! Não como amam os homens, nem os deuses, nem as almas que buscam a sua gémea.
Descrevo-te um amor profundo, semelhante a um núcleo escaldante que ao explodir criou o universo. 
Um amor etéreo, como as forças que unem as estrelas do cosmos numa distância infinita.
Um amor grandioso, quente, acolhedor, que se confunde com a própria sabedoria divina e cria pontes entre os nossos corações, como portais entre as nossas essências.
Chego à conclusão que as palavras não traduzem este amor que quero transmitir. Fica o brilho no meu olhar ao contemplar-te que ao resplandecer com tanta vida diz tudo no seu silêncio...


sábado, março 16, 2013

AMANTE



As vossas prisões feitas de preconceitos e morais perdidas no tempo de nada valem. Não são cárceres para mim.
Sou um pirata sentimental em busca de emoções para que a minha vida seja rica em aventuras.
Vagueio de coração em coração saqueando vivências. Para mim esses são os tesouros mais belos.
Sou um salteador de sentimentos devotado à liberdade. Fiel apenas aos meus próprios princípios que nada têm a ver com restrições.
Sou amante da boémia, da paixão e da loucura. Viajante por sonhos cheios de infinito. Descobridor de segredos que se escondem na simplicidade, encantado pelo canto da sabedoria.
Salto entre a religião e a ciência para me fascinar com a beleza que a vida me oferece.
Talvez me chamem poeta porque as minhas palavras são livres e telepaticas, mas elas transmitem apenas os tesouros que vou acumulando.
Este é o meu caminho, de um sonhador dedicado. Complexo talvez, mas livre para criar…


sábado, março 09, 2013

IMPULSO



O vento sopra forte, uivante e assustador. Como espectros que gemem na sua agonia eterna. Traz consigo nuvens sombrias que ameaçam tempestades.
Talvez seja a voz do meu próprio medo que me sussurra palavras tenebrosas aos ouvidos. Não. Os meus medos infantis já há muito que me abandonaram.
Talvez seja a raiva a lembrar-me de quem eu sou. Trajando-me com vestes negras e ameaçadoras. Não. A minha ferocidade não precisa de ser recordada.
Talvez seja a minha ânsia de voar entre os céus amargurados da sabedoria a querer abrir as minhas asas de anjo. Ou demónio? Não. Luz ou trevas não me definem. As duas partes existem em mim como uma só. Qualquer julgamento em contrário é somente uma opinião que para mim pouco vale.
Sopra vento, sopra uivante! Abre as minhas asas, às vezes negras, às vezes brancas. Impulsiona-me com o bem e o mal. Mas deixa-me marcar a diferença com o meu voo transcendente…


sábado, março 02, 2013

POTÊNCIA COLOSSAL



       – Estás pronto para percorrer o infinito? – Perguntou-me com ar descontraído ao sentar-se na cadeira do piloto.
       Anui. Podia ter falado mas estava num estado de emoção apática. As palavras não me saíram. O silêncio definia-me melhor. A minha mente estava invadida por pensamentos absortos. Não sabia explicar se era um imenso vazio ou milhares de expectativas para aquela viagem rumo aos confins do desconhecido.
       Observava-o enquanto mexia com perícia nos botões de navegação. Conhecia bem aqueles movimentos. Um enorme ecrã surgiu à nossa frente mostrando o local de descolagem. Colocou a música «Contentores» dos «Xutos e Pontapés» para nos fazer companhia. Boa escolha. Acho que se adequava com perfeição ao momento.
       A nave estava pronta. Com um simples comando arrancou, poderosa, em direcção ao cosmos. No ecrã vi o planeta a ficar para trás a uma velocidade vertiginosa. Na realidade, a sensação que tinha é que era a própria Terra que se afastava de nós. 
       Tudo era diferente do que tinha imaginado. Parecia que estávamos parados e o espaço é que se deslocava em nosso redor. Os motores eram silenciosos, inaudíveis mesmo. Não faziam adivinhar a potência colossal daquela máquina que traçava caminho entre as estrelas.
       A música mal tinha chegado a meio e o nosso planeta já tinha desaparecido do ecrã, como se tivesse fugido de nós levando consigo os nossos pecados. Que velocidade levaríamos? Grande… Muito grande certamente. Agora apenas se viam as estrelas que passavam a correr trazendo atrás de si o nosso destino. Um recomeçar de novo…