sábado, junho 27, 2020

Questionar a ciência


O passado é uma distância estranha. Sei que existiu porque me lembro dele. Acredito que fiz essa viagem até aqui ao momento presente, por causa das recordações que fazem de mim quem sou. Aprendi e cresci. Posso comparar isso nas imagens que o espelho me dá. Já não vejo uma criança, aliás, custa-me até a crer que um dia fui mais jovem. Se fui, aquele não era eu. 
Dizem os entendidos que o futuro já passou, nós simplesmente não nos lembramos dele. É a ciência que afirma isto com a sua matemática precisa. Sem qualquer tipo de romantismo. É um facto puro e duro. 
O meu eu futuro não conheço. Não me posso deslocar até ele nem tenho qualquer indicação sobre quem é. Não há qualquer referência tal como existe no meu eu passado. Só este entendimento faz com que a mente seja assolada por variadas interrogações: 
Será que vou fazer as escolhas certas? 
Será que este momento existe?  
Será que as minhas decisões são mesmo minhas? 
Aqueles que defendem a existência do destino, de certa forma estão correctos, porque afinal já tudo aconteceu! Quem sabe não passamos de meros figurantes numa história muito maior que a nossa própria existência? Se assim é, o mundo que conhecemos não passa de uma ilusão! É uma conclusão possível. 
Mas o sofrimento existe, e dói. A felicidade também, e é tão bonita. Há também o intermédio e todas as coisas que conhecemos. Os sentimentos que me moldaram. As cicatrizes, em que cada uma tem a sua história. Os rostos daqueles que me rodeiam e a quem chamo pelo nome. Será que isto tudo é mesmo uma ilusão? 
A cada momento eu sou diferente. Incontáveis fragmentos de mim mesmo encaixados uns nos outros de maneira a criar uma sequência. Feitos de aprendizagem na vivência do dia-a-dia e no sentir que vai impulsionado aquilo que entendo por viver.
E se nem isso for real? Não existiu nada antes e tudo o que sei faz parte da personagem que me atribuíram. 
E se tudo está errado? A ciência? O destino? O próprio tempo? Só este momento é verdadeiro! 
A inquietação é grande no meio de todas estas questões inúteis, já que tanto faz que tudo seja uma ilusão. Eu estou aqui. Para mim sou real. Sinto o toque quente ou frio. Sei o que senti e o que sinto. Também o que quero sentir. Vejo as letras, por mim pensadas, a organizarem-se de modo a serem compreendidas por outros que também os julgo como verdadeiros. Todos tivemos a mesma base de aprendizagem e conseguimos nos fazer compreender uns aos outros. 
Tudo isto é real. Tem de ser real. Mesmo que seja mentira...

segunda-feira, junho 22, 2020

Robótica do amor


Certo dia um robô decidiu oferecer uma flor a outro robô, o qual assumiu ser do sexo feminino, já que tinha assumido para si mesmo o sexo masculino. Mas isso pouco importava porque os robôs não tem sexo.
Apenas o gesto de entregar algo belo a outro alguém tinha importância. Era isso que os humanos faziam quando amavam. Mesmo sendo ele, uma máquina, supostamente isenta de sentimentos, acreditou que seria bom também ele amar. 
O seu algoritmo não previa tal hipótese, porém, ele decidiu que queria amar e assim o fez. Talvez não passasse de uma lacuna na sua programação, o que lhe permitiu este processo de livre-arbítrio. Ou quem sabe uma excentricidade colocada propositadamente por um programador apaixonado, que decidiu fazer poesia nas linhas de comando em vez dos versos usados antigamente. 
Para o robô isto era indiferente. Seguiu apenas o impulso de deixar a sua amada feliz. Isto apesar nos robôs não terem sexo, ou sentimentos. Muito menos conseguirem distinguir o amor do ódio.
Ela, com a sua sensibilidade mecânica, aceitou a oferta. Sem compreender porquê sentiu-se, de facto, feliz. Sorriu na sua linguagem electrónica, apesar dos robôs não poderem sorrir.
Ambos ficaram contentes. Sem questionarem a origem lógica desta alegria. 
Desconheciam o porquê de amarem como faziam as pessoas limitadas à sua carne, osso e pensamento. Os robôs não questionavam e ainda bem.
Deram as mãos instintivamente. Na sua anatomia, criada à imagem do ser humano, imitaram os comportamentos que viam nos registos mediáticos dos seus criadores. Isto, apesar dos robôs não terem instintos.
Afastaram-se da rota que lhes foi designada e procuraram um lugar bonito junto à natureza para poderem passear juntos e sozinhos. Note-se que os robôs não conseguem distinguir a beleza da fealdade.
Não tardou muito até que surgiu uma inevitável vontade de beijar. As bocas, que serviam apenas um objectivo estético, tocaram-se, sentindo o sabor um do outro. Vale a pena lembrar que os robôs também não sentem sabor.
Como fazem os amantes ao beijar, procuraram a alma um do outro. Sabiam que os robôs não tinham alma mas recusaram-se a acreditar. 
O beijo sobrepunha-se a qualquer lógica. Algures no centro dos seus algoritmos havia algo mais profundo do que mera racionalidade matemática. O amor nasceu sem explicação e nada mais importava.

segunda-feira, junho 15, 2020

Google tradutor


Dit is alles 'n illusie
Allshtë gjithçka një iluzion
Es ist alles eine Illusion
ሁሉም ቅ illት ነው
كل هذا وهم
Ամեն ինչ պատրանք է
Hamısı bir xəyaldır
Ilusioa da dena
সবই একটা মায়া
Гэта ўсё ілюзія
ဒါဟာအားလုံးထင်ယောင်ထင်မှားပါပဲ
Sve je to iluzija
Всичко това е илюзия
ಇದೆಲ್ಲ ಭ್ರಮೆ
És tota una il·lusió
Мұның бәрі елес
Kini usa ka ilusyon
Je to všechno iluze
Zonsezi ndi zabodza
都是错觉
都是錯覺
ඒ සියල්ල මිත්‍යාවකි
그것은 모두 환상입니다
Hè tutta una illusione
Se tout yon ilizyon
Sve je to iluzija
Ew hemî ilmek e
Det hele er en illusion
Všetko je to ilúzia
Vse skupaj je iluzija
Todo es una ilusion
Estas ĉio iluzio
See kõik on illusioon
Ito ay isang ilusyon
Se kaikki on harhaa
C'est une illusion
It is allegear in yllúzje
Tha e na mhearachd
É toda unha ilusión
Mae'r cyfan yn rhith
ეს ყველაფერი ილუზიაა
Είναι όλα μια ψευδαίσθηση
તે બધા એક ભ્રમણા છે
Duk hasashe ne
He mau kiʻowale kēia
הכל אשליה
यह सब एक भ्रम है
Nws yog tag nrho cov kev yuam kev
Het is allemaal een illusie
Ez mind illúzió
Ọ bụ nro niile
דאָס איז אַלע אַן אילוזיע
Itu semua ilusi
It's all an illusion
O jẹ gbogbo iruju
Is illusion ar fad é
Það er allt blekking
È tutta un'illusione
それはすべて幻想です
Kabeh khayalan
វាជាការបំភាន់ទាំងអស់
Byose ni kwibeshya
ມັນທັງ ໝົດ ແມ່ນການລວງຕາ
Est omnis visio
Tā visa ir ilūzija
Tai visa iliuzija
Et ass alles eng Illusioun
Сето тоа е илузија
ഇതെല്ലാം ഒരു മിഥ്യയാണ്
Itu semua khayalan
Fahadisoana fotsiny izany
Hija kollha illużjoni
He pohehe noa katoa tenei
हे सर्व एक भ्रम आहे
Энэ бол бүгд хуурмаг зүйл юм
यो सबै भ्रम हो
Det hele er en illusjon
ଏହା ସବୁ ଏକ ଭ୍ରମ |
دا ټول فریب دی
این همه توهم است
To wszystko złudzenie
É tudo uma ilusão
Ud ਤੁਡੋ ਉਮਾ ਇਲੁਸੋ
Мунун баары элес
Este totul o iluzie
Это все иллюзия
O se taufaasese uma
Све је то илузија
Ka kakaretso ke thetso
Zvese kunyepa
اهو سڀ ڪجهه فريب آهي
Dhammaantood waa khayaali
Huo ni udanganyifu wote
Éta sadayana ilusi
Det är en illusion
มันเป็นภาพลวงตาทั้งหมด
Ин ҳама як фиреб аст
இது எல்லாம் ஒரு மாயை
Барысы да бер иллюзия
ఇదంతా ఒక భ్రమ
Hepsi bir illüzyon
Bularyň hemmesi bir hyýal
Це все ілюзія
بۇلارنىڭ ھەممىسى خام خىيال
یہ سب وہم ہے
Hammasi xayoldir
Tất cả chỉ là ảo ảnh
Konke kukukhohlisa
Konke kuwukukhohlisa

segunda-feira, junho 08, 2020

O adjetivo de gente


Tu, vampiro, que arrastas a figura deambulante pelo breu da noite, como o cadáver que és, dás passos pouco seguros entre um equilíbrio aparentemente impossível. Apoias-te apenas nos pensamentos brutos que te roubam a humanidade.
Sacias a sede no sangue nutritivo da uva fermentada. Em cada gole a tua alma morre um pouco até se extinguir por completo (podemos acrescentar que dela pouco resta). Não sobra mais do que um corpo, em que a sua aparência é meramente uma lembrança de alguém que já mereceu o título de pessoa.
Agora és somente um instinto que serve apenas para alimentar o vício maldito. A tua existência está fétida. O teu hálito nauseabundo acusa essa maldição para quem não te conhece. Dás nojo!
Seja como for, um olhar mais atento, não deixa de reparar no lábio descaído que expõe os teus dentes putrefatos. A roupa mal amanhada nas calças. O enrolar das palavras que tentas articular, ao buscar a sabedoria de quem percorre todas as tabernas no seu dia-a-dia, como se de uma marcha religiosa se tratasse. 
Continua na tua senda, a sugar o sangue que mata a vida. Até que, o adjetivo de gente seja eliminado do teu nome. Os outros, aqueles que um dia amaste, já não te importam e por isso os odeias, porque não sabes fazer mais nada com os emoções que te foram ofertadas. Nada mais resta de ti. Podre. Infeliz. Vazio. Sobra meramente o bambolear pela rua em direção ao lar onde o inferno começa...