segunda-feira, abril 29, 2019

Considerações sobre o pensamento


O pensamento é uma energia tão concreta quanto a força dos músculos, o calor do fogo, a electricidade num relâmpago, ou a química da Natureza. O ser humano, mesmo obcecado pelo conhecimento, ignora esta verdade e exclui, daquilo a que chamam ciência, o estudo das ideias que a mente gera.
Existem, no entanto, alguns que se debruçam sobre a metafisica em busca e algum tipo de elucidação esotérica, para o que afinal é engendrado e concebido pelo nosso próprio pensamento. Algo em nós tem a capacidade de mover o mundo, muito para além do simples domar das disciplinas materiais. Essa habilidade esconde-se à vista de todos, entre os pequenos gestos, as palavras proferidas, ou no mero facto de observar aquilo que nos rodeia.
Até os próprios crentes, seja qual for o credo, mesmo diante as escrituras, desconhecem que o Universo foi fruto de um pensamento. Uma ideia colocada em prática por uma entidade de imensidão incalculável. Esse mesmo dom foi atribuído ao bicho homem sob a forma de energia, mesmo que insuspeita e incompreendida.
Sem unidade de medida que possa ser calculada e incluída nas matemáticas ou engenharias, o pensamento ausenta-se das disciplinas que tentam compreender a vastidão do Universo, ou a motorização da Natureza. Talvez seja até, o elemento faltoso na chamada “teoria do todo”. A derradeira vontade que une todas as coisas.
Pensar que algo pode ser real pode, e deve, ultrapassar uma simples ordem ao corpo, ou a fronteira da imaginação. Tem uma acção directa na mecânica do cosmos. Camuflar o que se ambiciona debaixo de sentimentos, ou qualificar como mera fantasia é um erro. Desejar é o primeiro acto de toda a criação, para que todas as outras forças se conjuguem no mesmo objectivo.
Sabemos traduzir a linguagem da nossa mente em palavras, números e arte. Como se encontrasse na nossa casca um habitáculo de onde nunca se expanda, a não ser com a nossa própria ordem. Não creio que deva ser entendido assim. Tenha grandiosidade ou pequenez, o pensamento é uma energia viva, que nunca deve ser ignorada!

segunda-feira, abril 22, 2019

Palavras que entoo para ninguém


Tenho um fascínio, quase perverso, pelo eco sombrio numa sala vazia.
É como declamar a história sinistra de um pesadelo maldito a um ouvinte ausente. Ou cantar intentos de vingança a uma pobre alma abstraída, mergulhada na demência. Nada mais se escuta, a não ser a minha própria voz, no seu timbre mais impetuoso.
Ouço-me na pele exposta dos meus segredos mais obscuros. Na nudez sem pudor da violência que povoa os cantos escondidos do meu ser sem cor. As memórias, como tralha, ignoradas em sótãos e caves, de moradas sem fim para cada um dos rostos que visto.
Não tenho respostas, quando a questão que interrogo a mim próprio se escusa da génese de um propósito. Sei que algo em mim dança ao ritmo do som calado da sala vazia. Nada mais. Não sou quem digo ser, nem sei quem quero ser.
O peso que tormenta a vontade, o grito do silêncio inquieto. Encontra-se algum conforto nas palavras que entoo para ninguém. Ora doces, ora brutas, nunca banais, nunca reais. Sentimentos por desejar, que lutam entre si para encontrar um pouco de vida numa estrofe. Faço do eco confissão às paredes despidas de ornamentos e ao chão sem mobiliário, tal como eu, sem emoções. O desassossego alimenta-se daquilo que não tenho para dar.
“Um pouco de Paz, se faz favor”! Soletro em raiva, como quem anseia o infinito. Sei que ninguém me ouve a não ser eu mesmo e os outros que habitam em mim. Todos como eu, mas sem ser eu. Personagens que fui e ainda vou ser que pelejam entre si para me completarem na solidão de existir.
Tudo se resume em nada e tudo inicia aqui. Porque afinal sei que existem baús. Sendas escritas nas recordações. Momentos que alimentam a sabedoria. Dou por mim a olhar para longe, para muito longe, onde os pés não chegam. Afinal não há vazio e isso atormenta-me.
O pensamento é como o Universo, criado do nada, vai crescendo sem se concluir numa inquietação constante. O entendimento, esse, existe apenas numa matemática por inventar. Ainda assim sou invadido por uma felicidade sem explicação. Como se, num repente, me apercebesse do enigma do inefável.