segunda-feira, março 07, 2016

Amo imaginatio


Existe um mundo imenso dentro de mim
Tenho muito barulho no meu ser a inquietar
Sendo então distante com a mente a divagar
Desinquieto não sou o único a viver assim
Na insistência das palavras soltas a rimar
Alguma parte etérea de mim a chamar
Em sentimentos de tumulto em frenesim 
Sem ciência que explique este desajustar
Perdido na realidade paralela do sonhar
Faço deste meu desassossego um motim
Na riqueza das quimeras vejo-me cantar
Amores com chama intensa a desejar
Ser como a Primavera a florir um jardim
Toda esta fantasia em mim está festejar
Liberto nas estrofes tenho asas para voar 
Pois a vida se recria num colorido festim

terça-feira, março 01, 2016

Gostos comuns


Certo dia, num encontro romântico com a sua namorada, o rapaz segurou-lhe as mãos com grande ternura e contemplou, não a sua face angelical, nem o seu sorriso aberto, muito menos o seu olhar meigo, apenas as suas unhas compridas de que tanto ela se orgulhava.
Lentamente foi aproximando o seu rosto dos dedos dela. Num acto impetuoso atirou-se, com os seus dentes, à longa unha do indicador direito. Ela gritou! Puxou! Mas não a tempo de impedir que ele a conseguisse roer desenfreadamente como quem devora um petisco.
Aquela reacção, que só um viciado compreende, mereceu-lhe um par de estalos bem assentes e o fim da relação. Ele não se importou. Foi um pequeno preço a pagar. Valeu bem a pena pelo bom pedaço de unha que conseguiu arrancar. Se houvesse prémios para isso, aquele feito era certamente digno de um.
Era um daqueles rapazes ditos normais, com gostos comuns, alguns pequenos luxos, um telemóvel já com alguma qualidade e um automóvel, mais ou menos, acima do modesto. Não desejava grandes riquezas. Apenas queria uma vida simples com algumas comodidades.
O que ele gostava mesmo era do seu vício. Algo tao impulsivo que o fazia descaradamente mesmo à frente de todos! Roía as unhas com um prazer quase irreal. Cortava por um canto, devagar, com a ponta dos dentes e ia retirando aos poucos as lascas que as compunham.
O mais custoso era o tempo que demoravam a crescer entre as selváticas devastações que sofriam. Passavam-se segundos, minutos, horas, sem que o tamanho aumentasse. Por isso olhava para as unhas dos outros com lascívia. Invejava quem as tinha compridas.
Nesse aspecto as mulheres eram um bom alvo pois sabiam a importância de ter as unhas longas. Mesmo que o motivo fosse completamente diferente é claro. Porém tratavam-se de meros pormenores de um objectivo muito mais grandioso.
Não se tratava de um tique nervoso. Somente de um hábito tão incontrolável que a mera ideia de o deixar de fazer causava-lhe pânico! Uma fobia desmensurada impossível de parar. Dito desta maneira talvez fosse um costume exagerado aos olhos dos outros mas não para o rapaz. Para ele era como saborear um pouco do paraíso…