sábado, julho 31, 2021

É já amanhã!

Pois é, é já amanhã dia 1 de Agosto! Este espaço faz anos! 

Estou numa fase em que não tenho tido motivação para escrever. Às vezes acontece. Não sei quanto tempo vai durar, mas este ano não tem sido produtivo a nível de escrita. Nem tem de ser. Afinal de contas isto é só um recanto onde eu brinco com as palavras. De qualquer forma fico muito contente por ele existir e por todas as coisas escritas que aqui vou deixando. 

Quase todos os anos assinalo esta data com esta música e faço disso um ritual agradável. 

Deixo um abraço a todos que descobrem este canto e decidem comentar! 

Feliz dia 1 de Agosto para todos!

segunda-feira, julho 26, 2021

Oiço falar de felicidade em todo o lado

Nasci triste, de gente triste. Nunca aprendi a festejar nem me ensinaram a celebrar uma vitória. Disseram-me que dançar parecia mal; cantar não era para mim; e rir era uma falta de educação.

Nunca brinquei como deve de ser com medo do julgamento alheio. Os outros estavam lá sempre para apontar o dedo e falar pelas costas sobre a minha conduta incorrecta.

O palco era só para os famosos, viessem eles de onde viessem. Só me diziam que não vinham daqui e que essas coisas eram feias.

Venho de gente malfadada e deles herdei esse fado. Fui forçado a compreender essa verdade, tal como a fadista cantou.

Vejo os outros alegres e vou atrás deles tentando imitar os seus gestos. É só isso. Esqueço-me que para erguer os braços, saltar, gritar e sorrir é preciso sentir entusiasmo. Para mim, isso, é só uma palavra incompreendida, ou até mesmo proibida. A felicidade não se copia da mesma forma que uma criança da escola passa um texto no seu caderno. 

Oiço falar de felicidade em todo o lado, seja nos livros, na televisão, nas músicas, nas conversas de café nas mesas ao pé da minha. Mas ninguém me ensina o significado de tal coisa! 

Das vezes que perguntei, nunca compreendi a resposta. Talvez tenha questionado os professores errados, já que, me pareceu que estavam tão perdidos quanto eu nessa busca de uma suposta alegria. 

Quem sabe se a maior parte daqueles que se dizem felizes, são como eu, meras cópias sem sentir? 

Conheci momentos, mais ou menos demorados, de ilusão, que me fizeram sorrir. Só isso.

Agora, sinto falta de algo em mim que nunca foi. Uma lacuna incomodativa que parece frustrar todas as minhas tentativas de ser gente.

Resta-me aceitar aquilo que sou. A melancolia também tem a sua beleza, que o digam os poetas na sua inquietude. Leio-os com algum fascino e compreensão, embora, no fundo, também a esses eu copio, porque me julgo igual a eles no sentir. Talvez até esses sentimentos eu imite. Contudo, se assim for, a cópia parece mais real do que ser aquilo que não sou.


terça-feira, julho 20, 2021

Ti Manel Velho

Ti Manel Velho vem pela estrada a mancar, apoiado numa bengala, firmando-se, sem que o seu corpo assimétrico caia no chão. Entre os seus lábios traz um cigarro aceso meio fumado. Caminha estranhamente rápido para alguém com problemas na locomoção.  

O cabelo grisalho e as rugas que lhe estilhaçam a pele do rosto, anunciam a idade avançada que lhe valeu a alcunha. Porém, aqueles que hoje já são adultos e pais de família, já o conheciam assim desde os tempos de criança, com a mesma idade dos seus próprios filhos. 

Nada na aparência daquela figura se tinha alterado com o passar do tempo. O homem idoso que hoje segue pela rua, bem podia ser o mesmo que o fazia há umas décadas atrás. Talvez fosse uma partida da memória, contudo, as rugas, o cabelo, a bengala, a roupa, ou o próprio cigarro sempre aceso, em nada mudaram comparando com as recordações de infância. 

Talvez aquele homem já tenha nascido velho, a mancar e a fumar. Saltado do ventre da sua mãe, pronto a percorrer as mesmas ruas, às mesmas horas, depois de um copo ou dois na tasca de sempre. Concebido com esse propósito por alguma vontade desconhecida do senso comum, sendo aquele o seu único objetivo nas fileiras da humanidade.

O resto da sua história, se algum dia existiu, ficou perdida no esquecimento da indiferença. Tudo o que tinha a dizer estava naqueles passos diários e rotineiros. Sem grande sabedoria e nenhuma evolução. Sempre a mesma figura sem ambição, sem qualquer sinal de modernidade. O que faz hoje, podia ter feito há cem anos atrás. Sobram aqueles que o observam, sempre igual, enquanto o mundo muda.