quarta-feira, novembro 26, 2014

Algodão doce


As nuvens ficaram coloridas, abandonando a tonalidade negra e ameaçadora. Tornaram se como arco-íris feitos de algodão doce a pairar sobre a minha cabeça. Como se fossem turistas que passeiam tranquilamente pelos meus pensamentos mais profundos. 
É uma curiosa sensação. Como se o céu se transformasse numa paleta e a minha imaginação pintasse cenários abstractos na tela da minha poesia, em versos que fazem questão de não fazerem sentido. Apenas inquietarem-me com um desejo vadio.
As cores são bonitas, quase hipnóticas, mas o frio anuncia que noite vai chegar em breve. Uma certa melancolia vem aconchegar-me o ânimo solitário. Por isso, continuo meu caminho e deixo que as nuvens continuem o seu, à procura de outro destino onde vagar…

quinta-feira, novembro 20, 2014

Novembro


Tenho uma vontade enorme de querer ficar sozinho. Sem barulho à minha volta. Sem interferências. Apenas uma calma serena. Sem nada que me perturbe.
Excluir-me das regras, quase ridículas, que compõem os alicerces da nossa sociedade. Aliviar dessa pressão de normas pré-estabelecidas, que nada mais fazem, senão limitar a minha criatividade e ânsia de ser livre para descobrir o meu caminho.
Ou melhor. Tenho necessidade de ficar apenas eu e o criador, que se recria em mim, com todas as limitações humanas.
Existe uma paz majestosa nesse sossego meditativo. Um conhecimento esotérico que vai nascendo no âmago do meu íntimo. Uma candura  que me aconchega. Algo que me transporta para um lugar indizível, onde a matéria não importa.
Sim, eu preciso disso. De ficar esquecido, para mais tarde voltar renovado à minha humanidade…

sexta-feira, novembro 07, 2014

O povo


O gordo soltou um peido. Cheirava tão mal! Parecia que nas suas entranhas existia uma fábrica de podridão, tal era o fedor de imundice que impregnava o ar. Aqueles que o rodeavam, imediatamente se afastaram cheios de nojo, com os vómitos a saltarem-lhes do estômago. Ele abriu um sorriso de orelha a orelha. Estava contente. Pouco se importou com a indelicadeza, ou com o mau estar provocado aos outros. Literalmente cagou-se para eles. Ignorou-os, gozou-os, simplesmente maltratou-os para seu próprio prazer.
O gordo era assim. Não se incomodava com quem se abeirava dele. Primeiro estavam as suas necessidades, vontades, luxos e caprichos. Não fazia mal se alguém desmaiasse diante dele e fosse bater violentamente com a cara na lama. Tanto melhor! Era da maneira que lhe servia de tapete, para não sujar os sapatos caros, de marca, imaculadamente lustrados. As pessoas não serviam para nada mais do que isso. Para alimentar os seus gostos e a sua avareza.
O gordo nunca falha. Por isso mesmo não admite ser criticado. Se por infortúnio acontecer algum erro sob a égide da sua pessoa, a culpa não é dele. Certamente é de algum factor externo, ou, da incompetência de outro qualquer. Nunca dele! Ai de quem tiver a ousadia de lhe apontar o dedo. Esse, desce ao nível mais baixo da educação humana, na rudeza do ataque pessoal e das palavras duras do politicamente incorrecto. Inadmissível!
O gordo contava histórias que faziam rir, sonhar e acreditar, àqueles que não o conheciam, que, saltando das suas cadeiras, lhe batiam palmas com grande entusiasmo. E diziam: “Ora aqui está um tipo porreiro, engraçado, que não tem maldade para connosco”. Mal sabiam eles que estavam muito longe da verdade. E aquele que agora estavam a idolatrar, seria o mesmo que os iria espezinhar. O povo é assim!

terça-feira, novembro 04, 2014

O Paraíso


Queres pecar comigo?
Mas o que é o pecado afinal? O ignorar de umas quantas regras que supostamente nos iriam levar ao paraíso?
E se o paraíso for mesmo aqui, ao pecar contigo? Sentir o sabor da carne sem medo de punição. Sem remorsos. Apenas desejo de nos termos. Nos possuirmos em pleno para além de limites sem sentido.
O paraíso somos nós!