sábado, setembro 14, 2013

POR ENTRE A TEMPESTADE


O Deus do Trovão surgiu nos céus, entre as nuvens carregadas, fadado com todos os nomes que os povos e os tempos lhe deram. Trouxe consigo o medo que a sua presença anuncia, crivando de terror a coragem dos heróis e enchendo de suplicas a boca dos humildes.
A sua figura austera olhou para o mundo com um semblante indecifrável entre a melancolia e a raiva. Sem hesitar, elevou a sua mão e por entre o negrume chamou a tempestade. Então, no meio da obscuridade que se formou, nasceu um relâmpago que rasgou a as trevas com a sua luz tenebrosa.
A terra estremeceu ante o poder daquele raio implacável e do seu som aterrador. Lágrimas jorraram dos olhos das crianças e os corações dos adultos dispararam no seu bater acelerado. Era o pânico a ganhar vida.
Mas a intempérie não se calou. Os céus assombrados eram trespassados cada vez mais e mais pelos trovões impiedosos que ribombavam sem misericórdia, clemência ou compaixão. O terror, o pranto e o desespero faziam-se ouvir no pavor dos humanos assustados.
O Deus do Trovão observou a sua obra no seu voo sublime. Quando o medo no mundo alimentou a sua ânsia ele baixou a sua mão, chamando de volta o sol, que foi regressando submisso por entre a tempestade que se acalmava. 
Depois de demonstrar o seu poder, foi embora. Tinha lembrado que a natureza é mais forte e as pessoas meros seres piedosos por um pouco de felicidade…


sábado, setembro 07, 2013

REFLEXO


Os espelhos estão em todo o lado mas não reflectem a minha imagem. Quando os olho, não é a minha figura que olha de volta para mim. No seu reflexo fico transparente, dissolvido, inexistente! 
Aparecem em várias formas, vários feitios ou mesmo em materiais improváveis. Por vezes surgem sob a forma de som, outras como um sussurro trazido pela brisa, outras como uma certeza que inunda a minha intuição. 
São como retrovisores que mostram o que está por trás de mim. Onde está apenas vossa vida que vou observando quando pensam que não estou a ver.
Quando estou de costas vocês julgam-me ignorante, inocente, sem interesse. Mas desconhecem que eu estou a observar no silêncio da minha quietude. Sei os vossos segredos mais negros. Conheço as vossas manhas ludibriantes. Sinto o vosso cheiro a podre a entranhar-se no vosso olhar…
Não me pronuncio sobre isso, mantenho-me calado alimentando a vossa certeza sobre a minha ignorância. Oh… como estais errados. Sei tudo aquilo que cultivam no oculto. Os espelhos contam-me tudo em pormenores sórdidos e grotescos.
O meu silêncio protege-me da vossa malícia. Escondo-me na minha suposta inocência e guardo as vossas misérias para um momento oportuno. Até porque a vossa vida não é assim tão interessante, embora tenham essa ilusão. São meras existências banais, insípidas e sem conteúdo, que se entregam ao pecado como qualquer outro humano. (Eu não sou excepção).
Portanto mantenham as vossas rotinas vulgares. As vossas mentiras mundanas. Mesmo que de forma inebriada achem que vivem acima dos demais. Lembrem-se apenas:
Eu sei…