terça-feira, agosto 29, 2017

Os melancólicos


Nós, os melancólicos, encontramos a felicidade nos pequenos pormenores da vida. Não buscamos um apogeu de alegria pois sabemos que esta é efémera. Queremos apenas a simplicidade de um sorriso honesto.
Nós, os melancólicos, temos um fascínio pela solidão. Gostamos do isolamento e da liberdade de não depender de mais ninguém a não ser dos nossos próprios pensamentos, longe de quem vive o fado da banalidade.
Nós, os melancólicos, observamos os outros. A coberto da nossa distância passamos despercebidos entre os demais. Somos como mais um na multidão, sem que o nosso ser seja distraído pelas ambições que o mundo tem.
Nós, os melancólicos, conhecemo-nos na poesia. Como quem conversa intimamente com desconhecidos nos versos da nossa inquietude, a partilhar segredos obscuros nas palavras rimadas da nossa fantasia.
Nós, os melancólicos, amamos o infinito, onde não há fronteiras que nos imponham impossíveis. Queremos ter por destino o que está longe e nessa viagem expandir a nossa mente até ao inacreditável.
Nós, os melancólicos, repudiamos a tristeza pois conhecemos a sua sombra. Procuramos refúgio na noite como vampiros, ainda assim amamos a luz do sol e o calor, pois o fardo da escuridão na alma é demasiado penoso.
Nós, os melancólicos, temos o nosso nome escrito no livro da sabedoria. Fomos abençoados com a maldição de buscar o conhecimento. Abraçamos o castigo de caminhar em direcção à gnose. Convictos da nossa vontade, neste destino eternamente insaciável...

segunda-feira, agosto 07, 2017

A criatividade de quem vive inquieto


A verdadeira religião não tem nome. Nem rituais pré-estabelecidos. Não tem sequer regras. Obviamente que a espécie humana tinha de tentar compreender aquilo que entende como divino. Claro que na sua ignorância, e num acto totalmente imbecil, dividiu a Fé naquilo a que chama “religiões”. O que resultou dessas separações, foi revelar o que existe pior na essência da humanidade. A desunião.
A verdadeira religião não tem um Deus, pois na há nome que Lhe possa ser atribuído. Não tem um santuário, pois todo o Universo é uno consigo. Não tem um tempo, porque o princípio é igual ao fim, e o intermédio apenas uma sensação interpretada pelos sentidos e contabilizada pela ciência. A pequenez da existência apenas reduziu toda esta grandiosidade a algo que possa compreender pela dita lógica.
A verdadeira religião é incompreensível, nem a ciência, nem a teologia, nem filosofia, lhe encontram explicação e certamente, a humanidade presa à sua percepção da existência, não vai encontrar uma orientação que lhe mostre conhecimento. Talvez, se todos pensarem como um, se chegue a alguma conclusão que permita abrir uma porta para o entendimento e o transcendente se torne verdadeiramente próximo.
A verdadeira religião não nega a natureza. Se assim fosse não teríamos sido criados da forma que fomos: planetas e galáxias; masculino e feminino; animais e plantas; crescimento e aprendizagem. O desejo e a curiosidade são parte integrante da nossa essência tanto quanto a nossa carne e sem dúvida alguma parte integrante da criação. Querer anular esta verdade é afastar tudo que é divino.
A verdadeira religião é um caminho que nos guia a um propósito desconhecido. Sem entender a sabedoria como um pecado mas sim como o único meio de alcançar todos os mistérios da criação. Para além daquilo que nos ensinam, ou do que os nossos sentidos nos mostram, existe urgência em derrubar impossíveis e não criar limites naquilo que deve ser um mundo aberto para conquistar pelo raciocínio e pelo sentir.
A verdadeira religião começa no silêncio. Torna-se embrião no pensamento e explode na arte, no olhar, no tocar, na criatividade de quem vive inquieto. No saber daqueles que se apelidam génios e não se conformam com leis castradoras de ideias, vindas da autoridade mirrada de quem não sonha. É uma energia intensa que pulsa com vontade própria na pele daqueles que vivem para além deles mesmos.
A verdadeira religião está no teu coração de criança que brincava ao amanhã!