sábado, abril 20, 2013

DISTANTE


Hoje, tudo me parece demasiado mundano. Sinto-me afastado do que me rodeia. Assuntos, pessoas, lugares, cenários, até de mim próprio. A minha mente vagueia longe de tudo por sítios que não compreendo. Viaja como se tivesse vontade própria que não a minha.
Sinto-me distante de tudo…
Procuro-me pelos becos da existência em devaneios que se confundem com loucura. Deixo-me estar só. Numa esperança sem nexo de que a solidão tenha consciência. Talvez tenha, porque só ela me compreende nas nossas conversas caladas…
Mas eu sou humano, fadado pelos sentimentos.
Eu odeio. Sinto a fúria a tomar conta de mim quando se elevam injustiças.
Eu também amo! Sem medo. Entrego-me ao amor com todas as minhas forças porque é o único caminho para a felicidade. Disso não tenho dúvidas.
Então porque estou tão longe?
Porque desejo o infinito…
Então hoje deixo a minha mente ir para longe. Talvez traga de lá mais sabedoria. Amanhã estarei de volta, com a minha sina de humano, para me misturar com todos os outros e tentar ser diferente.


sábado, abril 13, 2013

CRENÇA IMORTAL


O vampiro escreveu um poema numa língua antiga, já esquecida no tempo. Foi assolado por recordações de quando, no seu peito, um coração batia quente e nele corria sangue humano. Tempos esquecidos na memória das gentes em que ele era um poeta. Nos seus versos escrevia contos de amor, beleza e dor, quando o sol podia iluminar os seus dias.
Mas essas lembranças são longínquas e até difíceis de compreender. Muito tempo passou e atrás dos tempos vieram tempos. Tantos que já não conseguia contar. Civilizações nasceram, civilizações morreram. Impérios foram criados, impérios foram destruídos. Deuses desceram à Terra, Deuses ascenderam aos céus. Eras caíram sobre outras eras apagando a suas memórias e vestígios. Lendas ficaram algum tempo, adulteradas e depois esquecidas como todo o passado.
Só a poesia se mantém imutável. Serva da beleza, do amor e da dor. Mundos vieram, mundos esqueceram-se. Só a poesia continuou igual. Por isso o vampiro continuou a escrever versos com o sangue da sua memória, a dor da sua emoção, a beleza que tanto venera e uma crença imortal no amor…



sábado, abril 06, 2013

GROTESCO



Sou um híbrido. Estou entre o perfeito e o horrendo.
Chamam-me lutador, mas não me lembro de receber aplausos quando entro no ringue.
Chamam-me herói, mas não reconheço em mim qualquer feito digno de relevância.
Chamam-me monstro, quando estou de costas. Desviam o olhar com repugnância.
Pois eu não gosto de ficar no centro. Quero pertencer a um dos extremos, por isso, escolho o grotesco.
Não me condenem, mas eu tenho de ser honesto convosco:  Não existe um mundo perfeito. Existe apenas ilusão, aquela que vocês alimentam!
E eu não vos posso julgar, pois também salto para esse lado quando a verdade me cansa…