sábado, maio 28, 2016

Quis hoc carmen scripsit?


O poema caiu ao chão
Foi pisado
Por mil pés calcado
Na apressada multidão
Como lixo enxotado
Tornou-se papel amarrotado
Ainda assim sem qualquer rasgão
Esse palavreado rimado
Sujo e maltratado
Esvoaçou na confusão
Negou esse fado
De morrer calado
Porque sua voz é paixão
Viu-se então segurado
Alguém o tinha salvado
O poema viajou para outra mão
Lido para ser sonhado
Forte para ser declamado
Com toda a alma e coração

Algures um sonhador escreveu
Esse mesmo sonhador esqueceu
(Porque um sonhador também se esquece de sonhar)
Porém a rima não desapareceu
O poema sonhado não morreu
Outro sonhador o leu
(Porque um sonhador não se esquece de amar)

sábado, maio 07, 2016

A companhia


- Para onde vais?
- Não sei ao certo.
- É uma resposta vaga vinda de um viajante.
- Talvez por isso não tenha destino planeado.
- Sozinho?
- Não. Vou encontrando companheiros pelo caminho, até que cada um siga a sua rota. Depois vou encontro outros que também hão-de seguir os seus trilhos.
- Certamente existe um lugar que te faça ficar.
- Quem sabe? Não dou muita importância a isso. Acima de tudo gosto de preservar aquilo que aprendi, as aventuras que vivi e os rostos que se cruzam comigo.
- És sábio?
- Fizeste-me sorrir com essa pergunta.
- Mesmo assim não respondeste.
- A resposta é não, evidentemente.
- Já encontraste algum?
- Não sei. Todos os sábios são humildes. Jamais diriam que o são. Mas já encontrei gente com grande sabedoria, se é isso que queres saber.
- Interessante. Sabes, respondes muitas vezes não! Ou pelo menos ainda não deste uma resposta completamente afirmativa!
- Isso é porque ainda não me perguntaste algo que me fizesse dizer sim.
...
- Sabes. Depois destes minutos em silêncio que partilhamos, o meu pensamento juntou vários fragmentos. Na minha cabeça formou-se um todo. Acho que já tenho uma questão para ti.
- Qual é?
- Posso ir contigo?
- Sim.