sábado, junho 30, 2012

LINHA DO DESEJO



Sabes aquele momento em que o desejo toma conta de nós e tudo se torna sensualidade?
Invade-nos como uma corrente eléctrica que se apodera dos nossos instintos. Deixa a nossa racionalidade calada, para dar lugar a novos sentidos que anseiam apenas deleite. 
Uma vontade devastadora de te beijar a boca enquanto te arrasto para mim. As mãos descontroladas percorrem o teu corpo e com raiva te despem para que a nudez nos liberte. A transpiração reluzente que anuncia um fogo interno que arde ansioso no nosso íntimo. 
O sabor, o cheiro, o morder, o marcar, a dor que se transforma em prazer, ofegantes, animais, insanos, carnais, delinquentes, artistas soberanos da luxúria…
Tudo se torna novo cada vez que cruzamos a linha do desejo. O mundo fica para trás. Porque quando nos amamos sem pudores, entregues à ousadia, chocam entre nós incontáveis sensações de prazer carnal e altivez espiritual. Dando lugar a uma guerra de estrelas onde o caos é gerado, para logo a seguir, dar à luz um novo universo…

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sábado, junho 16, 2012

DONO DA MINHA CRIAÇÃO



O doce prazer da escrita. Grandioso refugio feito de palavras que nascem directamente do nosso anseio de criar. Onde mundos surgem, corações sentem, vidas nascem, proliferam e desafiam as leis da realidade. A nossa realidade mundana, sublinhe-se. Pois no extremo da caneta quem dita as leis é aquele que escreve. 
É nesse momento que sou dono daquilo que transcrevo para papel. Fantasias e devaneios que brotam do meu intimo sonhador para desaguar num mar de frases desafiantes. Quando isso acontece torno-me rival dos deuses da criação, para me tornar eu, também criador. 
Pouco me importa que digam que o universo é infinitamente maior do que as minhas palavras. Será que é maior que a minha imaginação, sonhos e sentimentos? Coloco as minhas dúvidas. Alguém que seja louco o suficiente (ou consciente em demasia) me venha provar o contrário!
Até lá estou aqui. Dono da minha criação. Entre a arrogância e o orgulho de quem desafia o universo e a humildade de quem partilha os seus sonhos com quem também deseja sonhar da mesma forma.


sábado, junho 09, 2012

DIREITO



Não me tirem o direito de amar… 
Tirar a alguém o direito de amar e de ser amado, é o mesmo que lhe tirar o direito de viver! Há muitos que o querem fazer. E se assim é, não vale a pena pregar valores, moral e bons costumes, pois é tudo mentira.
Se tirarem a alguém o direito de amar, estão a dar-lhe o dever de odiar! E se o amor move montanhas, o ódio certamente as destrói! 
Aqui fica o recado: Se impedirem alguém de amar, preparem-se para receber o seu ódio e por consequência, a vossa destruição…

sábado, junho 02, 2012

ALEGORIA


Ela abriu a porta, timidamente e deparou-se com a sala a meia-luz. Baixou o rosto. Não se sentia com coragem para deixar que reparassem no seu olhar. Revelava demais sobre o seu íntimo.
Caminhou lentamente, cabisbaixa, até à poltrona, que mais se assemelhava a uma espécie de trono, situada no outro extremo da divisão. Nela sentava-se uma figura masculina, de porte imponente e feições indecifráveis.
Ao chegar, receosa, perto do homem, ele perguntou:
- Está feito, Sonolenta?
Ela não respondeu. Manteve os olhos baixos e abriu a sua bolsa. Tirou de lá algo embrulhado em panos, que pelo aspecto já seriam muito antigos. Foi desdobrando com cuidado e logo se revelou o seu conteúdo: Um punhal feito de ouro, adornado com uma escrita antiga. Entregou-o cautelosamente aquele personagem, que o aguardava silencioso.
Ele pegou no artefacto dourado e esboçou um sorriso, acariciando o objecto.
- Perfeito. Bom trabalho, Sonolenta. – Disse, visivelmente satisfeito com a sua enviada.
Ela fez uma pequena vénia, deixando escapar um sorriso envergonhado. E sem nunca levantar o olhar dirigiu-se novamente para a porta.
- Sonolenta! – Chamou o homem quando ela estava já de costas e se preparava para sair.
Ao ouvir o seu nome voltou-se, levantando pela primeira vez o rosto, expondo os seus olhos sonhadores. Brilhavam, como se uma súbita confiança se tivesse apoderado de si. – Sim? – Respondeu. 
- Mantém-te acordada. – Disse-lhe ele, num tom de conselho.
Ela anuiu e saiu. Um certo orgulho tinha nascido em si. Da mesma forma que compreendia agora melhor, a força que encerrava no seu intimo.

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