segunda-feira, junho 30, 2014

O hino


Adormeci
O cansaço embalou-me e o sono arrebatou-me para as suas profundezas.

Perdi
O tempo, sem que eu desse conta da sua passagem, deu um salto. Foi como se esse intervalo nunca tivesse existido.

Esqueci
Talvez tenha sonhado. Mas se assim foi não me recordo. O que é pena, pois mesmo na sua bizarra ilusão, os sonhos dar-me-iam algo para contar.

Acordei
Um som mais forte reavivou-me. Os ponteiros do relógio confirmaram que me havia deixado ir com a sonolência.

Despertei
A vida chamou-me de volta. As horas apagadas trouxeram-me algum repouso. Não o suficiente, suponho. A inquietude ainda corria nas minhas veias.

Voltei
Ignorei o conforto do corpo adormecido e escutei, algures, as vozes que me chamavam. Levantei-me ao encontro delas para me lembrar de quem sou.

A vida pede-me que entoe o seu hino.
E fui.

sábado, junho 28, 2014

Para quem ama as emoções


Para por um momento.
Vem conversar um pouco comigo.
Já reparaste na beleza que nos rodeia? Sim, eu sei que parece um cliché, mas observa com atenção.
Está cair a noite, o céu está limpo, não tarda aparecem as estrelas! Olha, lá está a primeira. Vê como o seu brilho é forte. Não tem medo de se afirmar como a mais cintilante de todas.
O sol já se escondeu por completo e trouxe consigo a fresquidão. Sabe bem depois de um dia quente. Um manto negro já foi estendido sobre as nossas cabeças para servir de palco ao espectáculo do firmamento.
Mais estrelas estão a chegar, tímidas, mas lá vão rompendo a escuridão para nos maravilhar. Para não falar na lua. Contempla como se impõe-se grandiosa, tal como uma rainha lá no alto a sorrir para nós.
Foda-se! É lindo!
Diz lá se tudo isto não te faz sonhar?
A rotina do dia-a-dia faz-nos cair no marasmo. Na apatia. Esquecemo-nos de contemplar este cosmos admirável que nos rodeia. Tentamos enganarmo-nos com um pouco de amor aqui, um pouco de aventura ali, um pouco de prazer acolá… Mas a verdade é que nos deixamos ir com a sonolência imposta pelo cansaço que a sociedade determina. Às vezes acho que querem castrar a beleza e a arte que acompanha a natureza.
Recuso-me a fazer isso! Não deixo!
Quero escrever poemas que emocionam, pintar quadros cheios de vida, criar músicas que façam dançar e chorar com o vibrar dos sentimentos.
Sabes, os cientistas dizem, com as suas equações matemáticas, que tudo já está predestinado. Vou-te contar um segredo: Não acredito em nada disso. Quero que esses estudiosos metam essas teorias pela goela abaixo e se calem!
Deixem sonhar quem ama as emoções.
Prefiro viver livre de amarras, de conceitos pré-definidos de como devem ser as coisas. Como deve de ser a nossa existência.
Não! Eu quero o mundo com tudo que ele tem para dar. Não quero apenas meras amostras de felicidade. Quero tudo como deve de ser!
Escuta um conselho, devíamos parar mais vezes, como seres finitos que somos e apreciar toda esta grandiosidade, porque temos à nossa disposição o próprio universo a se revelar para nós e só nos importamos com o efémero…

sexta-feira, junho 13, 2014

Onde moram os poetas


No mundo poético eu sou fumador, aqui não existem doenças que apodrecem os pulmões e entopem o coração. E se existirem são belas, ou melancólicas, tanto faz. Tudo é poesia! Nas suas palavras apenas existe encanto…
No mundo poético eu puxo o fumo do cigarro, travo e durante segundos infinitos deixo o meu pensamento vadio, algures… Finalmente, ao expelir, modelo formas de beleza abstracta, tal como um escultor de desejos…
No mundo poético eu sou um rei, um boémio, um pecador, (quiçá um santo redimido),um obsceno! Ou simplesmente ninguém, quem sabe? Talvez seja apenas eu a dizer tolices, ou talvez a inquietação que habita em mim…
No mundo poético eu sou criador de universos. Aqui não há limites para o que se possa criar. O único limite é ultrapassar os limites! Aqui, eu sou rival de todas as divindades da criação, ou pelo menos tenho essa ilusão. Ou tudo é ilusão! Quem sabe?
No mundo poético eu sou um vampiro que chupa o sangue de virgens inocentes. Em imagens românticas procuro o amor verdadeiro, atrás de esquinas sombrias entre palavras ousadas e reticencias caladas de sentimentos Inefáveis…
No mundo poético perco-me a escrevinhar fantasias inebriadas. Minhas, dos outros, ou de ninguém. Sigo sem ter um sentido. Vou enganado por achar que estou no controlo quando, na realidade, sou apenas um instrumento de uma consciência maior. A poesia é que manda…

quarta-feira, junho 11, 2014

Pequena prece


Que o ruído lá fora se cale
E a minha mente deixe o silêncio acontecer
Que as cores sombrias sejam expelidas
E um Arco Íris seja inspirado para dentro do meu ser
Que os sentimentos tumultuosos se acalmem
E uma energia serena flua com abundância em mim
Que a minha vontade fique livre de amarras
E a vida floresça colorida no meu íntimo
Que o sofrimento não me prenda ao que é banal
E o meu corpo se restaure com uma alegria prodigiosa
Que o caos se dissipe em Universo
E a sua música mágica me faça sonhar
Que o mundano e o grotesco se purifiquem
E a Paz da Serenidade me faça cantar
Que a sujidade entranhada com o tempo seja esfregada
Limpa, se torne imaculada e esquecida
Para que eu possa ouvir claramente a voz do Pai Cósmico
Sem interferências
Sem chamamentos
Sem tentações
Apenas eu e o Infinito
Apenas um
Mais nada

terça-feira, junho 03, 2014

Pedaços de sucata


Tenho demasiado barulho na minha mente. Incontáveis fragmentos de poluição mundana vagueiam pelo imenso cosmos da minha imaginação inquieta.
Um emanharado de memórias, fantasias, sonhos, projectos, ideais, loucuras, ou simples devaneios que vêm à tona no mar da minha consciência. Inquietam-me com a sua presença e não me deixam serenar. Parecem ruídos que estragam de forma irritante a melodia mágica que tento escutar. Uma música encantada que provém da própria essência do universo.
São como pedaços de sucata que teimam em estorvar o meu caminho, cada um por si a tentar chamar a minha atenção. Vou-me perdendo entre eles, a olhar para pequenos desinteresses e banalidades que pouco acrescentam à minha existência!
Quero mais! Sei que existem mundos novos a descobrir dentro de nós.
Tenho ganas de me encontrar! Mergulhar ao fundo da meditação. Viajar à génese da própria existência humana. Unir-me à inocência do primeiro homem, cuja herança trago gravada na minha aparência. Esvaziar a minha mente para que o meu pensamento fique puro e então deixar-me invadir por novas realidades. Encontrar um vislumbre da verdade cósmica que tanto anseio e beber, ainda que seja apenas um simples gole, da fonte do conhecimento.