quarta-feira, fevereiro 13, 2019

Os adjectivos mais baixos


Hoje, declarei novamente guerra ao mundo. Fi-lo com a violência de quem, num acto extremo, bate com o punho cerrado na mesa. De maneira a que os alicerces da sabedoria, concebidos pela grandiosidade da ignorância humana, estremeçam.
Afirmei o meu caos, sem qualquer tipo de dúvida, àqueles que se haviam esquecido de que eu era invencível e imortal. Depois disso, fulminei-os com o olhar pintado de brutalidade. E eles, sem misericórdia, arderam nas chamas do ódio mais puro e implacável.
Espezinhei-os como o pó. Castrados e sem nome. Desprovidos de qualquer dignidade, ou a altivez que julgavam ter. Mesmo assim, numa réstia de bondade, deixei que fossem elevados a menos de nada, para os poupar da erradicação total da memória.
A esses, dei-lhes, portanto, a honra de constarem na história como os ridículos… Os asquerosos… Os repugnantes… Os que são apelidados com os adjectivos mais baixos, no vocabulário de todas os dialectos criados, em qualquer civilização já existente, ou ainda por vir.
No entanto, há em mim uma sede por crueldade, que não nego. Foi plantada na minha génese pela providencia divina, e eu acarinho-a como uma espécie de autoridade, para que pratique justiça contra quem ameace a minha tão amada serenidade. São os tais, vermes imundos, o alvo da minha ira castigadora.
Seja como for, não os identifiquei como inimigos. Apenas um ligeiro incomodo, como um dia mais nublado, ou uma comichão passageira. Nada mais. Interpretem este gesto como um ensinamento a todos vocês que um dia vão sentir o sabor da revolta contra quem vos tentar subjugar.

quinta-feira, fevereiro 07, 2019

Trajectória implacável


O alvo foi escolhido. Numa mera fracção de segundo o cérebro tomou a decisão de o trespassar. Depois, com precisão matemática, calculou a distância, o peso e a velocidade. Sem hesitar, o dedo abateu-se sobre a frieza do gatilho. A flecha, despida do peso do sentir, atendeu ao seu propósito e voou sem hesitar.
O ar, atravessado pela trajectória implacável, não ofereceu resistência ao lancetar do projéctil em busca do seu objectivo. Aqueles que tomaram alguma atenção, ouviram um ligeiro assobio, como que a acompanhar o estalar da besta no seu disparo perfeito. Toda a beleza do engenhar do homem ao serviço das suas ambições.
O corpo, atingido pelo inesperado não teve tempo para questionar o porquê. Varado pela malícia humana caiu inerte. Sob a frágil capa do viver, nada o separou do perfurar irrepreensível da firmeza do arqueiro. “A seta lançada não volta atrás”.  Não existe lugar para culpa na senda duma vontade cruel. Apenas o êxtase de mais um propósito consumado…