quarta-feira, agosto 23, 2006

RENOVAR



Estava sozinho num mundo desolado. Encontrava-me rodeado de ruínas, numa enorme planície, que outrora tinha sido uma utópica cidade. Conseguia lembrar-me bem da sua magnificência. Mas agora tudo era ruína. Como se assim estivesse à milhares de anos, abandonado. Ao longe conseguia ver umas montanhas. A cobrir tudo estava uma poeira cinzenta e espessa. Os céus estavam vermelhos, como se estivessem ensanguentados. E a mancha de sangue ia aumentando a pouco e pouco com o passar do tempo. Tudo era desolação… Tudo era silêncio… Tudo era vazio…
Estava um frio estranho, pois não era desconfortável. Era como se o frio não me afectasse. Eu passeava-me no meio daquela angústia, em busca de algo, ou alguém. Usava uma armadura brilhante que contrastava com toda a ruína em meu redor. Quem era eu? Não sei. Talvez a mistura de todas as minhas vidas, numa só existência vã.
Caí de joelhos no chão e perguntei ao sangue que cobria os céus:
- Quem fez isto? Foram os homens?
Não obtive resposta. Então perguntei novamente:
- Porque é que teve de acabar?
Então o sangue respondeu:
- Tem de recomeçar novamente. Tudo que termina tem um principio, esse principio sucede a um fim. É um ciclo…
Eu respondi:
- Porquê assim? Porquê? Porquê?...
Não obtive resposta, mas no fundo eu sabia o porquê. Então perguntei:
- E eu? Que vai acontecer?
O sangue que inundava os céus respondeu:
- Tu viverás novamente, no novo mundo, como viveste até hoje…
Baixei os olhos resignado. Queria contestar, mas não tinha argumentos nem tão pouco palavras. Apenas disse:
- Porquê? Criação... Crescimento… Destruição…
Nesse momento a minha mente foi assolada por recordações. Aquele momento, vivido vezes e vezes sem conta. Aquele momento que era o fim, mas também o principio, vivido incontáveis vezes. Incontáveis vezes em que tudo que conhecemos é criado e destruído num ciclo vicioso. Na esperança de um dia alcançar a perfeição.
Resignado tirei a armadura, de nada me era necessária. Rapidamente ficou coberta pelo pó cinzento. Eu encostei-me, à espera, cansado. Não consegui conter uma só e única lágrima que me escorreu pelo rosto. Nem sequer me dei ao trabalho de a provar…

Não sei se era sonho, ou lembrança…


quarta-feira, agosto 16, 2006

OLIMPO


Eis-me aqui, no cimo do Olimpo
Eis-me aqui, no cume do mundo
No fascínio desta imensa solidão
Rodeado por maravilhas concedidas pelos deuses
Eis-me deslumbrado pelo vazio aconchegante
Eis-me aqui, acima dos demais, observando
Encantado pela voz silenciosa da solidão
Longe, tão perto
Aqui, na morada dos Deuses
Aqui, no imponente Olimpo
É-me revelada a paz silenciosa
O meu coração ouve calado
As maravilhas do infinito
Enquanto os demais se perdem na podridão do mundo
Eu fico sozinho
Triste, feliz
Encho o meu coração de paz
E olho o mundo humano
Caído em decadência
Sinto pena…
Mas fico aqui no imponente Olimpo
Enquanto a solidão me enche de paz
E o meu coração renasce
Aqui, no cimo do imponente Olimpo