sábado, novembro 26, 2005

OS DEUSES OBSERVAM



Desvanece-se a noite que cobre o Verão
Revela-se o sol que assombra o Inverno
Anjos caídos tocam as trompetas da agonia
Os seres malditos mostram-se ao mundo
Os ventos sopram melódicos e fortes
Os Deuses observam os humanos
Enquanto saboreiam o vinho de Dionísio

De entre os esquecidos surge um vulto
No seu olhar apático vive o vazio
No seu rosto habita um sorriso triste
Caminha lentamente entre os vivos
Sabendo que a vida deles esta morta
Preso entre o mundo e a solidão
Um guerreiro solitário revela a sua glória

Olhares incrédulos observam-no
Enquanto sozinho desafia o mundo
Os Deuses comentam entre si
A audácia de um homem sozinho
Querendo completar o vazio do olhar
Aprender a sorrir no seu destino
Por entre a vida morta dos humanos

F

sábado, novembro 19, 2005

A LUZ



Abro os meus olhos à verdade
Deixando um sorriso triste
Enquanto caminho sozinho à chuva
Procuro uma porta que me guie
Uma música melancólica acompanha-me
Desde o amanhecer até o pôr-do-sol
Tento encontrar uma luz
Eu sei que existe uma luz…

A alegria não está no meu olhar
Gostava de encontrar uma luz
Uma mão que me segurasse
Que fosse minha guia
Vivo uma ilusão que tento esquecer
Mas mesmo assim caminho à chuva
Na companhia da minha solidão
Guardando um último fôlego

Quando o luar cair sobre a Terra
Brilhando perante os meus olhos
Eu sinto que o tempo
Apenas ficou para trás
Espero uma luz salvadora
Na berma de um precipício
Na frescura da alvorada
O tempo abandona-me…

P

sábado, novembro 12, 2005

PALAVRAS



- Sabes, já conheci muita gente sonhadora na minha vida…
- Sim… Eu também…
- Muitos mudaram e perderam a capacidade de sonhar com o tempo e com a rotina. Outros, com as adversidades da vida deixaram de acreditar em sonhos. Outros ainda, com essa adversidade voltaram a sonhar, mas refugiaram-se na sua fantasia, vivem na ilusão…
- Outros ainda, criticam os que sonham, mas sonham em segredo… Por algum motivo estúpido não dão ouvidos à sua fantasia…
- Não conseguem perceber que o sonho revela a verdade, a força e a paz…
- As pessoas que sonham são mágicas…
- Sim… Tal como uma criança com os seus sonhos inocentes.
- Não sabem que encerram magia…
- Não sei se inveje uma criança por ser mágica, ou se inveje alguém que não sonhe por viver na ignorância…
- Acho que é um caminho que Deus traça para nós. Tu aceitaste-o…
- Diz-me… Nunca te apeteceu desistir…
- Sim, várias vezes…
- Porque não desististe?
- Tu sabes…
- Sim… Acho que sim… Apesar de tentar negar a mim mesmo…
- O vazio frio e a ânsia que não morre…
- …a ânsia do nosso outro eu…
- É um caminho onde não se pode voltar para trás…
- Mas é um caminho solitário…
- Mas pensa nas coisas belas que encontraste.
- Sim, tanta coisa. Se fosse apenas mais alguém não teria visto.
- Nem saberias que estava lá…
- Sim…
- Sabes, tal como tu gostava de mostrar aos outros aquilo que vi e o que vou ver ainda.
- Já tentei…
- E conseguiste?
- Não. Apenas consegui mostrar a direcção…
- E quando pensas que conseguiste…
- As pessoas mudam. Nas suas promessas esquecem o factor da mudança.
- Outras sabem que se seguirem nessa direcção não podem voltar…
- Sim. Preferem a ignorância. Não censuro…
- Por isso desisti…


quarta-feira, novembro 09, 2005

SANIDADE



Eu vi os monstros horrendos que perseguem a sanidade…
Assemelhavam-se a cães, mas andavam de pé como os homens. Os seus corpos eram uma mistura de homem com cão. Eram negros como a noite. A tapar as partes baixas, tinham uma espécie de saia, feita de um tecido magnífico de cor dourada. Parte do peito, ombros, pescoço, e cabeça eram feitos de ouro. Mas o ouro era como pele. Era flexível. As cabeças eram de cães. E do ouro duro abriam-se bocas horrendas com dentes enormes. Os olhos eram como uma luz vermelha. As orelhas eram asas de ouro. Emitiam sons arrepiantes que aterrorizavam, gelavam os músculos e arrepiavam os ossos. Transformavam o dia em noite. A felicidade em agonia.
Na mão direita traziam uma espada negra e dela saia um fogo de cor azul que hipnotizava.
Eles passaram por mim, porém não me tocaram, nem me viram, pois eu era sonho. E eu sendo sonho, não me podem tocar.
Se um monstro for sonho, aí está a perdição. Pois se os monstros forem sonho, não há como fugir.