sexta-feira, março 29, 2019

Superior a todas as regras


Levantei-me numa pose de afirmação. Altivo sobre todos os outros!
Ergui o meu braço com o punho cerrado e com toda a convicção do Universo, levantei o meu dedo do meio, num acto de absoluta Liberdade!
Da minha boca soltou-se o grito mais impetuoso que alguma vez disparei no rosto de um inimigo:
«Elite de merda! Que o diabo vos carregue junto com a vossa perfeição!»
Foram só estas palavras que proferi. Uma epígrafe breve, embora a minha mente estivesse povoada com os insultos mais degradantes, grosseiros e brutos alguma vez concebidos.
Não disse mais nada. Limitei-me a ficar ali parado. Sem ter noção do tempo. Só a certeza de que, a minha imagem, superior a todas as regras, ficasse guardada na memória de todos que me olhavam.
Eu, indomável! Ao lado dos heróis de outras eras. Em busca de Justiça. Erigido acima dos cacos de quem mora no medo.

sexta-feira, março 22, 2019

Como todos os apaixonados


Queria fazer de ti um poema. De nada valeu a minha vontade, porque tu és infinito e eu demasiado pequeno ante a ciência do teu ser.
Queria fazer de ti estrofes. As mais belas alguma vez escritas, só que me fugiram as rimas, temerosas com o teu Universo inefável.
Queria fazer de ti beleza. Mesmo sabendo que tu já és sublime, desenhada nas cicatrizes que se afundam no teu abismo colorido.
Queria fazer de ti perfeição. Embora as palavras morram em si mesmas, como todas as frases de amor que se desvanecem no papel, ou se perdem na memória.
Queria fazer de ti sonho. Sem perceber que já vives na minha fantasia, a acariciar o meu adormecer, ou a cantar na alegria do meu dia.
Queria fazer de ti Primavera. Seres como a Natureza que renasce em cada ciclo, tendo eu a ignorância daqueles que se julgam sábios, não percebi que o teu nome é sinónimo de renovação.
Queria fazer de ti a minha pele. Talvez porque ame o impossível, ou então porque já vives em mim, tal como carne e pensamento.
Queria fazer de ti o meu tempo. Calmamente, sem a pressa do amanhã. Pequenos momentos lentos que se confundem com a eternidade, para que nunca caias no esquecimento.
Queria fazer de ti utopia. As almas em junção não bastam para quem vive em inquietude, e como todos os apaixonados, desejei ultrapassar os significados mais altos do verbo amar.
Queria fazer de ti divindade. Já o és, nas minhas orações caladas de crente inabalável, ou no meu entender contemplativo do enigma da existência.
Queria fazer de ti tudo. Ainda que, o resto do mundo se esvazie diante a tua presença. Quando nada mais resta a não a ser a criação, que em nós encontra refúgio.
Queria fazer de ti mistério. Escondido atrás do teu sorriso. Voz que chama para o cosmos que habita no teu íntimo. Eu, curioso, ávido por viajar. Estudar a tua arte nos ínfimos pormenores que te tornam imensa!