segunda-feira, maio 29, 2023

No mundo


Em frente

Está a estrada que nunca percorri

O mundo que nunca explorei

Mulheres que nunca amei

Aventuras que nunca vivi


Em mim

Estão as lições que aprendi

As vezes que desanimei

Fraquezas que nunca superei

Todos os erros que cometi


Nos outros

Estão ideias que nunca entendi

Segredos que não desvendei

Mentiras que nunca perdoei

Histórias que nunca compreendi 


Aqui

Interrogo caminhos que nunca segui

Morrem os sonhos que não realizei

Sobram as mágoas que guardei

Doem as falhas que nunca admiti


No pensamento

Tenho palavras que nunca proferi

Mundos que nunca mostrei

Tudo o que um dia esperei

Narrativas que nunca escrevi


Cá dentro

Vivem sentimentos que nunca exprimi

Inseguranças que nunca enfrentei

Soltam-se lágrimas que nunca enxuguei

Gritam as limitações que sempre sofri


Cá fora

Procuro a felicidade que nunca sorri

Possibilidades que nunca tentei

Desejos que nunca partilhei

Todo o alento que ainda não senti



quinta-feira, maio 25, 2023

O puto


O estupor do puto não se cala dentro de mim!

Está zangado, com os outros; a escola; a família; o mundo. Ninguém o compreende. Farto dos grandes a ralharem com ele sem dizerem porquê. Quer brincar, não pode! Quer falar, não sabe! Quer sonhar, não deve! Grunhem eles a apontar o dedo.

Porquê? Porque sim, ou porque não. Porque simplesmente são eles a mandar e a criança só tem de obedecer. A curiosidade infantil não tem direito a uma explicação satisfatória sobre essa coisa de ser adulto.

Sem orientação, o pirralho não obedece. Não nasceu ensinado. Depois chamam-lhe mau. Traquina. Ordinário. Repetem-se os ralhetes, sem nunca virem acompanhados da tão esperada justificação. Surgiu, então, uma raiva rebelde, aos poucos, dentro do coração ingénuo.

O mundo, assim, parece frio, cinzento e sem alma. É tudo uma confusão enorme aos olhos do pequenote. Não lhe dão espaço para imaginar. Ele quer divertir-se. Inventar universos minúsculos feitos de grandiosidade e alegria. Qual é o mal?

O menino já não é um bebé. Cresceu e está furioso. Sempre a resmungar. Agora, eu tenho de o aturar. Lá vou tentando descobrir soluções para as perguntas que nunca lhe responderam. Contudo, só lhe posso dizer: o caminho para a maturidade é uma merda!

Não chega! As coisas têm de ser ditas no momento certo. A semente tem de ser plantada na altura correta para poder germinar em condições. Agora, talvez seja muito tarde. O solo da serenidade está cheio de ervas daninhas.

Eu bem o deixo divertir-se, sem rédeas, nem raspanetes. Mas ele há coisas sem o mesmo sabor depois de passar a meninice. Já não vai a tempo de compensar. Continua descontente. Confuso. À procura dum rumo.

O estupor do puto afinal ainda não cresceu. Está sempre a refilar. E eu, aqui, a ouvi-lo sem poder fazer nada, por mal dos meus pecados. A maioridade não trouxe a sabedoria que era suposto. Só ainda mais dúvidas.

Com tudo isto, só me resta uma alternativa. Ter de me aturar! Aqui, dentro de mim!


domingo, maio 14, 2023

Um encontro ao qual possa chamar Paz


Se estiver por aí uma Divindade benevolente a escutar-me, rogo-lhe que me envie uma figura Salvadora!

No meio do tumulto deste mundo caótico, olho em volta à procura de uma centelha de esperança. A minha jornada é solitária. Os meus caminhos são tortuosos. Estradas obscuras, com sombras a dançar à minha volta. Cada rumo que encontro tem como destino a desilusão.

Nasci pária. Desprezado pelos meus supostos iguais. Colocado à parte. Repreendido por existir. Malfadado por ter a curiosidade dos Poetas, privado de autorização para poder rimar como devia. Sem saber mais nada de mim, pergunto-me se o propósito da minha criação tenha sido só esse?

As minhas preces rasgam o silêncio da noite. Fazem um eco gutural nas divisões vazias da minha inquietação. Procuro no infinito uma resposta divina capaz de apoiar o meu desamparo. Tento acreditar na existência de um ser celestial. Uma entidade clemente a zelar por quem está perdido nas encruzilhadas da realidade.

Imploro por uma mão condutora. Algo ou alguém conhecedor deste mapa bizarro chamado viver. Anseio por um pouco de compaixão. Palavras, como melodias alegres. Braços estendidos como refúgio deste desalento crescente. Um encontro ao qual possa chamar Paz.

O meu desejo teima em encontrar essa personagem magnânima, envolta numa aura de benevolência, capaz de restaurar a minha fé. Seja com a ternura de uma mãe a embalar o filho nos braços; com a sabedoria de um mestre; com a força de um herói a lutar por Justiça. Tanto faz!

Seja qual for a sua forma, traga salvação. Talvez um amigo fiel sem medo das adversidades. Ou, quem sabe, um amor verdadeiro com a capacidade de me fazer acreditar ser mesmo possível existir felicidade. Até pode ser um néscio, dotado de ignorância, mas, sabe-se lá como, capaz de se orientar no labirinto da dor. Venha quem vier!

Teimo em manter a esperança nesta suplica. Acreditar que o destino ainda tem algo valioso reservado para mim. Espero o momento, quando, por ventura, essa tal figura salvadora vier ao meu encontro. Mesmo, sendo uma ilusão como tantas outras. Aguardo, poder descobrir nela, quem sabe, alguma serenidade.


terça-feira, maio 09, 2023

Flatulência matinal


No alvorecer de uma manhã serena,

Quando a aurora beija o céu com delicadeza,

E a natureza desperta com toda a sua beleza,

Um fenômeno surge, uma sinfonia amena.


Ecoa pelo quarto um som inusitado,

Sai a flatulência matinal, num soltar gasoso,

Um ruído engraçado, subtil e airoso,

Acorda o silêncio com o seu som desavergonhado.


Nasce do vento que sai sem aviso,

Um suspiro musical, engraçado e fugaz,

Faz-nos sorrir, na sua falta de pudor mordaz,

Eleva o humor num instante impreciso.


Ah, flatulência matinal, és fonte de riso,

Peculiaridade do corpo, sem disfarce ou máscara,

E mesmo que pareça um tema de pouca graça,

És uma lembrança de que soltar é preciso.


Assim, despertemos com bom humor e leveza,

Aceitar os sinais do corpo com simpatia,

A flatulência matinal, na sua singela melodia,

Lembra-nos da nossa humanidade, e da sua natureza.


Costumo brincar com o chatgtp e pedir para fazer poemas ou textos sobre temas inusitados. 99% das vezes saem coisas até interessantes, mas muito longe da criatividade humana. Quando lhe pedi para fazer um poema sobre 'flatulência matinal', escreveu este que publiquei. Ou melhor, uma outra versão onde fiz pequenos ajustes para o meu tipo de escrita e rima. Nada que tirasse a essência do poema original. 
Mesmo sem ser completamente da minha autoria, decidi publicar, já que achei imensa piada ao rimar do chatgpt. Principalmente com este tema!