quinta-feira, agosto 30, 2018

Balada de Agosto


Lápis cinzento
Esconde o sol deposto
Sal que desce no rosto
Nuvem de tormento

Triste relento
Onde o calor é suposto
Afecto sem gosto
Cala todo o sentimento

Frio desalento
Na cor de Agosto
Prelúdio de desgosto
Poema de lamento

segunda-feira, agosto 27, 2018

Pergunta por verbalizar


Olho para longe, em busca de um lugar que os olhos humanos não podem alcançar. Algures, onde a minha mente não conhece, nem a inteligência sabe onde fica. A geografia é uma disciplina impossível quando o ponto aonde queremos chegar fica no desconhecido. Sem mapas, ou indicações, que me orientem. Simplesmente é demasiado longe. Sempre demasiado longe… Para que a inquietação possa conhecer um pouco de tranquilidade.
Louvo este tormento de nunca me encontrar em lado nenhum, nem numa arte qualquer. Não há poemas cheguem para explicar o que não se explica. São coisas infinitas! São coisas impossíveis! São enigmas sem fórmulas para os decifrar. Respostas há muitas, nas mais variadas vozes, dos mais variados saberes. No entanto, esquecem que nunca foi feita uma pergunta por falta de a conseguir verbalizar. Não há ciência, ou pensamento, dos homens capaz de estudar esta sensação de constante distância.
Por vezes o espírito é de calmaria, quando o mundo à volta se cala no seu constante ruido, e deixo-me ir somente com a ânsia de estar ausente. É como se nesses momentos conseguisse encontrar o meu lugar, nesta fuga constante às dimensões corpóreas que restringem o ânimo, dentro da prisão da existência. Mas como pode isso acontecer se tudo é desassossego?
Contudo, há em mim uma réstia de esperança, que provoca o caos nesta minha falta de rumo. Uma Fé inexplicável, vinda sabe-se lá de onde que teima em fazer-me acreditar na ilusão da felicidade. Não posso negar que há em mim um espírito de sonhador. Esteja eu em tumulto, ou na mais absoluta lucidez, há sempre um sonho que insiste em nascer do ventre da imaginação, como se tivesse vida própria.
São delírios de quem não conhece a satisfação. Ainda assim, é tudo que sou. Entre o aqui e o infinito. Caminhos incontáveis sem bússola que me norteie neste emaranhado de incertezas.
Talvez o amanhã me indique uma direcção, ou me faça encontrar um propósito. Hoje não! Deixo-me que me esqueça de mim próprio aqui, nesta Paz momentânea e recolho-me na serenidade do olhar para o que está longe...