domingo, dezembro 30, 2018

Pudesse o Universo ser todo poesia...


O teu nome na manhã, pintado nas palavras do despertar. Tem paladar de arco-íris e toque de sonhos a acontecer. És sinónimo de nascer do sol num dia luminoso e a tua imagem é semelhante à Primavera. Tudo em ti é um convite à vida!
Pudesse o Universo ser todo poesia, para que a nossa fuga não tivesse horizontes. Sem limites que ousassem impor-se por todas as paisagens impossíveis que visitássemos. Tudo isto na glória absoluta de um olhar profundo!
Há um descontentamento perpétuo em redor da nossa humanidade. Cabe a nós, viajantes nos pensamentos da madrugada emancipar-nos face ao medo que mora dentro da pele. Sem saber o infinito, desenhamos na sinestesia dos sentidos momentos de perfeição!
Talvez não sejamos muito mais do que o Pó das Estrelas que nos molda. Ainda assim somos como magia, na imaginação inocente de uma criança; ou beleza no seu estado mais puro, entre os desígnios de um qualquer deus consagrado à arte!
Sei-te, tal como também me sabes a mim, em passos delicados pelo mundo que há em nós. Sem a pressa do conhecer, ou a tirania do dominar. Apenas sermos imensos entre os recantos mais iluminados das nossas profundezas mais escondidas.
Ouvem-se ondas ao longe quando tu estás. És amena como o Verão; serena como o caos que se cala. O calor emana nas vozes coloridas da nossa tela, e nos silêncios quietos do nosso sorrir. A intimidade vai-se entrelaçando nos dedos que brincam. Sempre e tudo; tu e eu!

segunda-feira, dezembro 24, 2018

«Um Bom Natal!»


«Um Bom Natal!» O homem deu assim os seus votos num tom de voz determinado. Quase como se este «Um Bom Natal!» fosse uma presença física, em vez de apenas um espaço temporal associado a rituais de afectividade.
As recepcionistas devolveram os votos, com a simpatia habitual, embora sem o conteúdo encorpado daquele «Um Bom Natal!», afirmado com a certeza absoluta do significado, quase saudosista, das palavras «Um Bom Natal!»
A firmeza bem-intencionada do homem captou-me a atenção para este «Um Bom Natal!», que podia ser apenas mais, um de entre os muitos, quase mecânicos, que tinha ouvido até ali. «Um Bom Natal!» concreto e perfeito, dito com toda a franqueza.
A sinceridade foi profunda. De tal maneira que quase transformou aquele «Um Bom Natal!» numa ordem a cumprir. «Um Bom Natal!» Mais forte que o peso da melancolia, do frio, ou da sorte. Só um querer bem, honesto, expressado com toda a convicção!

quarta-feira, dezembro 19, 2018

Como gente de carne e osso


Anoitece e o frio chega. Estou sozinho, enquanto a iluminação da rua se humilha na comparação com o sol que se esconde. Ainda assim, conforta-me alguma luz vazia.
Vem também humidade. Incómoda, que me morde a pele e pica a alma. Entranha-se adormecida no meu ânimo. Mesmo assim desperta-me. Estou acordado entre o pensar e o ser.
Hoje conheço-me. Escrevo-me com força implacável, em gentileza de guerreiro, violência de poeta, telepatia de amante. Filho do desejo. Poucas vezes me entendo assim, como gente de carne e osso, sem nada mais que me roube a atenção do mundo que me cerca.
Há os sons, as cores e os sentidos atentos a todos os estímulos. Encontro em mim vontade de acontecer. Tenho certezas banhadas com energia impulsiva. Sonhos nascidos da origem do impossível. Uma explosão de criatividade prestes a ganhar vida.
Ouvem-se vozes, tão banais quanto interessantes. Mostram-se rostos, cheios de histórias escondidas. Faz-me falta o toque noutro igual. Afinal de contas também sou um deles a baloiçar entre dramas e conquistas. Tenho vontades, ideias e esboços. Caí na derrota, elevei-me na vitória. Nada de especial se comparado aos demais, também eles entre o auge e o nulo.
Nos traços do meu semblante transcrevo tudo isto, como fazem os outros, mesmo sem o saberem. Deixo que o meu olhar fale uma língua calada, tal como falam os que amam (ou odeiam). Mesmo assim sei-me único, sem ostentar demais a minha singularidade. Não vá surgir quem me copie, ou pior, que seja eu a copiar alguém, ainda que de forma inconsciente. Simplesmente tomo consciência da minha pequena grandiosidade numa dança de pensamento e movimento. Tal como tu, entre todas as diferenças.

domingo, dezembro 09, 2018

O aconchegar


A noção de consciência tomou-me, mesmo ainda ciente do cansaço. Abri os olhos por momentos, no que julgava ser ainda a fase do adormecer. A ténue luminosidade matinal do quarto anunciava o contrário. Estava sim, a despertar.
A noite passou num instante imperceptível à mente. O sono não trouxe sonhos, nem ideias refrescantes, muito menos um descanso digno ao corpo. Foi como um piscar de olhos que atravessou a madrugada à velocidade do vazio.
Aconcheguei-me melhor nos cobertores, o tempo arrefeceu e dava-lhes uma sensação de leveza. Algo em mim ainda dormia, uma parte essencial que me impedia de acordar completamente. Talvez fosse esse o sonho que não aconteceu quando devia, daí a preguiça de me levantar para ligar o aquecimento.
Não olhei para o relógio, ainda estava demasiado apático. Supus apenas que ainda era cedo pela falta de sons que denunciassem movimento no exterior. Deixei-me levar pelo abraço do conforto quente das mantas. Rapidamente voltei a entregar-me para mais uma viagem despida de pensamento.
Desta vez foi breve, até que o sol, numa manifestação particularmente luminosa, me despertasse no momento certo. Talvez tenha passado uma hora, ou duas, ou meia… Não sei e pouco ou nada interessa. Já não sentia o cansaço, pois o sono tinha cumprido o seu dever.
Restou-me na memória aquele interlúdio passivo, que possivelmente não passou de um instinto natural do corpo para buscar aconchego face ao frio. Apenas uma história, sem moral, ou qualquer objectivo que a mereça ser lembrada. Ainda assim, decidi recordá-la. Quem sabe um dia encontre nela um mistério…