terça-feira, maio 19, 2020

O esquivar


Ontem estava mais apaixonado do que hoje.
A tua ausência faz-se sentir no meu pensar. Embora, não de forma a que sejas um total esquecimento, somente um desviar de atenção da tua presença constante em mim. Concentro-me nas coisas mundanas, até noutros rostos que sorriem, cada qual com a sua sedução. Cada pessoa tem o seu próprio Universo. Perco-me um pouco. Creio que sabes como é. O mundo com as suas variadas ofertas para alguém que deseja conhecer as emoções. Fora isso tu estás em toda a parte, como uma espécie de complemento a mim mesmo.
Mesmo assim gosto que sejas ausência. Não te quero degradar com as banalidades da nossa existência humana. Quero-te assim: em desejo constante. Como no momento em que a vontade de beijar é tão forte, que o combate ao impulso se torna violento. Mas ceder seria perder a batalha contra os instintos. Tocar-te não chega. Quero entrar com a carne em ti. Não apenas isso. Fundir-me em ti. Despedaçar-te até encontrar a tua alma e consumar a união perfeita entre o sentir e o ser, com toda a fúria pacífica de quem se encontra. 
Contudo, nestes dias distantes, tudo que resta é o mistério. As tuas palavras parecem divinas; o teu corpo demasiado radiante e eu, uma simples criatura imunda que se vai reconfortando com os pequenos fragmentos que me ofereces nos momentos que partilhamos. Instantes vorazes e profundos onde um pensamento comum não alcança. Apenas nós os conhecemos. Com a nossa magia tão própria. Tão esquiva.
É assim que eu te amo. Entre o ir e vir. Um desejo inconstante que vai e vem, sem qualquer ritmo, para que seja sempre impossível...