sábado, março 01, 2025

Estudem, façam sucesso e mostrem ao mundo


Acertou em cheio! Disparou com mestria a fisga de infância. Uma pedrinha arredondada não falhou a nádega esquerda da irmã!

Pobre coitada! Soltou um berro esganiçado. Saltou, enquanto levou as mãos ao traseiro na esperança de aliviar a dor inesperada. De imediato, tornou-se o centro da atenção dos convidados. Para piorar, despejou o champanhe em cima da senhora com quem conversava. Mais um grito. Ainda por cima, desequilibrou-se e partiu um salto.

Depois da surpresa inicial, os presentes começaram a rir. (Vamos ser francos. Teve piada!) Não tardou até uma gargalhada colectiva tomar conta do jardim. 

Já ela... Sentiu tanta vergonha! Aplicou-se ao máximo para organizar aquela festa na casa dos pais, da vila do interior onde passou a meninice. Comprou um vestido de gala, junto com uns sapatos lindos. Arranjou o cabelo. Não poupou, nem dinheiro, nem esforços. Transformou-se numa mulher de sucesso na cidade e fazia questão de mostrar àquelas gentes isso mesmo.

Agora estava no chão. Gozada por todos. Ficou furiosa. Olhou para cima e viu o irmão a rir como um desalmado na janela do quarto. Aquela brincadeira não ia ficar impune! Já não era uma miúda franzina para suportar as humilhações das travessuras dele. Não tinha idade para chamar os pais para virem em seu socorro. Nem um valente puxão de orelhas ia resolver a situação. Era tempo de se vingar!

Pegou no sapato com o salto partido e atirou-o em cheio contra a testa do irmão. Não falhou. (A boa pontaria devia ser de família.) O rapaz só teve tempo de levar a mão à cabeça e antes de perceber o sucedido, o segundo sapato acertou-lhe novamente. Ficou desnorteado. Nunca pensou que sapatos de mulher, lançados àquela distância, doessem tanto. 

Os convidados riam. Depois daquela façanha ele tornou-se o alvo da chacota. 

Mas ela não ficou satisfeita. Os dois já eram adultos. Saíram de casa e tornaram-se bem-sucedidos. Ela quis agradecer aos pais naquela festança. Estava convencida dele já ter ganho juízo. Errado. Cresceu, estudou, arranjou um bom emprego, porém, continuava um pirralho mal-comportado. Bastou entrar no quarto de infância, encontrar uma fisga construída por si em criança, para voltar às brincadeiras de mau gosto. 

Ó… mas era a vez dela!

Dirigiu-se, esgadelhada, em direcção ao barracão de ferramentas. Quando saiu, trazia um martelo de partir cimento. Não era uma mulher corpulenta, contudo, segurava a ferramenta com força bruta! Primeiro, ouviram-se vidros a partir. Depois, chapa a contorcer. O carro do irmão passou a ser o alvo da fúria dela. (Acreditem, se comprarem um automóvel desportivo, não é à prova de martelos. Muito menos de irmãs danadas!)

Alarmado pelo barulho, correu até o estacionamento. Ainda gritou "pára!", umas quantas vezes. Não valeu de nada. A irmã continuava a senda de destruição, descalça, em cima do capô do seu amado 'maquinão'. 

Sem outra forma de a impedir, voltou a puxar pela fisga e disparou mais algumas pedras. Desta vez falhou. Ela estava à espera. Desviou-se e saltou para o chão. (Até parecia uma super-heroína!)

De olhar focado, apontou-lhe o martelão e começou a andar na direção dele. Ele teve medo. (A sério, muito medo! A irmã parecia o 'exterminador implacável' atrás do seu alvo.) Fugiu para o meio dos convidados em busca de abrigo. Nem se apercebeu de ter deixado a fisga cair.

Ela pegou na fisga. Puxou as borrachas atrás. Estavam extremamente flexíveis para algo artesanal com mais de vinte anos. Procurou a pedra mais aguçada no relvado do jardim. Colocou-a no couro e apontou ao irmão. (Quem tiver uma imaginação ativa, pode visualizar a cena, acompanhada de uma banda sonora adequada ao momento. É merecido na minha opinião!)

Os convidados não o protegeram. Afastaram-se e deixaram-no completamente exposto. Alguns, filmavam com o telemóvel em direto para as redes sociais. O pobre coitado (Já lhe podemos chamar isso), era agora um alvo fácil. Sem qualquer hipótese de se defender. Só lhe restou aguardar enquanto a pedra foi projetada na sua direção.

A trajetória do calhau foi imaculada. Um disparo entre quinze a trinta metros por segundo (velocidade média duma fisga). Suficiente para ser impossível de deter. Atingiu, na mouche, a zona genital do irmão. Este, por reação instintiva do corpo à dor, caiu e ficou em posição fetal agarrado à 'prata da casa' enquanto gemia.

Os pais tinham saído com outros mais velhos, queriam caminhar um pouco nas ruas sossegadas da vila antiga. Alertados pela balbúrdia, voltaram. Ao chegar, a mãe desfaleceu. (Lá se foi o orgulho…) 

Já o pai, puxou os seus rebentos pelas orelhas. "Raios partam os fedelhos! Com aquela idade ainda não tinham tino!", resmungou enquanto os arrastava até ao interior da casa. Iam receber o merecido ralhete como em catraios.

(Moral da história: nunca utilizem o traseiro da vossa irmã para tiro ao alvo com fisga!)


Informação: Este conto é propriedade intelectual de António Silva, no caso do seu conteúdo ser publicado noutros lugares sem os devidos créditos ou autorização, serão tomadas medidas segundo o Código do Direito de Autor.


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