segunda-feira, março 02, 2015

O povo continua


O gordo não lava as mãos quando vai à casa de banho. Com elas cumprimenta efusivamente os lacaios que o vêm bajular e os infelizes, que na sua ignorância, simplesmente lhe querem tocar, como se fosse uma espécie de messias. A estes, por vezes, digna-se a soltar algumas palavras cínicas, encobertas por um léxico caro, para parecer filosófico. Não muitas. Pois, não vá se aperceberem do cheiro pútrido que se solta com o seu hálito. Era mau para a imagem e para os negócios. Não convém tal coisa.
O gordo fuma charuto. Intoxica o ar com o fumo poluente que expele entre gargalhadas sonoras e discursos entusiastas. Aqueles que se abeiravam dele tossem com aflição por causa do cheiro envenenado. Malditos seres barulhentos, que lhe deviam estar gratos por estarem na sua presença. A esses, usa-os como cinzeiros, caixotes do lixo, esfregonas e até mesmo sanitas. Estes parasitas aceitam a humilhação em troca de vida fácil. Nada de excêntrico tendo em conta que este é o preço a pagar por um lugar à sombra do seu grande vulto.
O gordo era importante. Tudo girava a sua volta e sob o comando da sua batuta. No alto da sua inquestionável idoneidade, dava indicações sobre todos os assuntos. Da luta dos pobres e remediados sabia apenas que existia, lá longe do seu conforto. Fieis aos seus ideais de honestidade vão contando as moedas e olhando as montras mantendo a esperança em dias melhores. Ainda assim, vão ouvindo o valoroso sábio. Confiando, mesmo a medo, na sua liderança. Pode ser que no meio do pandemónio, surgisse uma verdade. Fieis cordeiros!
O gordo veste um fato elegante e usa gravata. Aqueles que não o conheciam diziam: “Ora aqui está um tipo bem apessoado e de fina educação. Certamente está banhado em boa moral, incapaz de actos incorrectos para connosco”. Néscios incultos que mal não têm e portanto o mal não sabem ver escondido atrás de uma aparência imaculada. Gente sem nome, sem rosto e sem vida que importe. Estes, para mais não servem do que ludibriar, extorquir e defecar. Mesmo assim acreditam neste falso moralista. O povo é assim!

2 comentários:

Sandra Louçano disse...

O povo continua a pensar pequenino e a engordar ainda mais o gordo...

Gostei da imagem, regressei no tempo...ao tempo da minha juventude inconsciente.

Gostei muito de ler.

António Silva disse...

Sandra este texto é a continuação de outro que publiquei:
http://ummundodiferente.blogspot.pt/2014/11/o-povo.html

Monty Python são eternos :D