terça-feira, agosto 20, 2024

Maior do que qualquer imensidão


Sou uma alma antiga. Já viajei durante éons por incontáveis infinitos. 

Conheço ciências desconhecidas e os planos nos quais o universo foi concebido. 

Festejei com Deuses. 

Aprendi com Mestres. 

Vi futuros acontecerem até se tornarem antigos. 

Atravessei passados antes de serem esquecidos. 

Habito na palavra mistério, pois sou um segredo dentro da minha própria existência. 

Hoje, aqui, na carne humana onde estou encarcerado, medito sobre a grandiosidade de todo o meu ser, durante a pequenez deste instante ao qual chamamos vida. 

Não posso provar o impossível das minhas palavras, a não ser pela minha fantasia. 

Sei esta verdade, a qual me trouxe até aqui, com a certeza mais profunda de quem pode ser considerado louco. 

Ninguém inventou uma linguagem capaz de descrever o conhecimento inatingível que trago comigo. Mesmo se o pudesse fazer, todas as eras humanas não seriam suficientes para tal explicação. E pior, nem eu me compreendo, daí a inquietação. 

Nascer sem pertencer. 

Crescer sem me encontrar. 

Estar aqui mas não estar. 

O éter do pensamento é maior do que qualquer imensidão, imaginável ou não. 

Quero lembrar-me destas minhas viagens pelas dimensões do inacreditável, mas a mente não deixa e dói. Dói muito. Desde a pele à origem do meu eu. 

Tento rimar para sentir alívio. 

Os versos não surgem por qualquer motivo. 

Sobra a prosa disfarçada de poema. 

Admiro a arte dos outros, perdidos como eu. Sem mais nenhum idioma ao qual possam recorrer, escrevem, desenham, moldam, criam mundos, numa tentativa inútil de transmitir a gnose. Não estamos sozinhos, embora isolados dentro de nós sem a compreensão dos demais. 

Talvez o tempo não seja a melhor medida para quantificar uma alma antiga. Quem sabe, só a ilusão o possa fazer. 

Digo como sei, pois é a única maneira de o dizer. 

Falo para todos capazes de me entender. 

Como um grito a ecoar pelo silêncio aparente. Os sentidos ocultos escutam. Estão alerta em busca de uma qualquer orientação. Um sinal vindo do ventre cósmico onde nascem estas almas todas. Se é que nascem. Se é que são. 

Os religiosos, aqueles com verdadeira Fé, dirão que estas dúvidas são reflexo de uma centelha divina. Uma recordação de fazer parte do Uno e ao mesmo tempo uma frustração por estar afastado da génese original. 

Lembrar e profetizar em simultâneo. A concepção indizível, o caminho inefável do qual tanto falam as Escrituras Sagradas. 

Os virtuosos aceitam a sua ignorância como o caminho para a iluminação. 

Mas eu não. Prefiro a rebeldia dos artistas. 

A liberdade máxima de nada nem ninguém me possuir, a não ser eu mesmo, na pequenez da minha grandiosidade infinita. 

Continuo esta viagem pelos éons da fantasia a bordo da Nau da inquietude. 

Quem sabe, se encontro companhia. 

Um qualquer outro eu, refletido noutro rosto e noutra história. 

Coragem! A jornada é antiga e mais antiga é aquela que está por vir!


2 comentários:

J.P. Alexander disse...

Me gusto tu relato lleno de fantasía . Te mando un beso. Enamorada de las letras

" R y k @ r d o " disse...

Publicação BRILHANTE que amei ver e ler.
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Saudações poéticas e amigas.
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Poema: “ Lágrimas, Amor e Saudade “
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