segunda-feira, agosto 26, 2024

A malta do campo compreende


Ai de vós pecadores!

Deixem o vosso desejo lamentar.

A época das colheitas está a chegar,

O milho está ser levado pelos lavradores!

Alheios ao vosso desgostar,

Carregam as espigas a sazonar,

Com elas abertas enchem os tratores.

Levam também o apaixonar!

Afetos que cresceram ao veranear,

Na sombra fresca dos campos verdes,

Onde os lábios se puderam beijar,

Tantos jovens aprenderam a amar,

Nestes milharais escondidos dos olhares...

As mãos no corpo a explorar,

Pediu a carne para se desnudar!

Ficaram as terras repletas de despudores!

Ouvem-se as máquinas a cortar.

O vosso refúgio apaixonado a ceifar.

Ternura e deleite transformados em dissabores.

Deixam histórias para contar.

Prazeres secretos para lembrar.

Com as espigas arrastam os vossos amores...

Não fiquem a choramingar.

Outro Verão há de voltar.

Um novo campo cultivado pelos mesmos labradores!


terça-feira, agosto 20, 2024

Maior do que qualquer imensidão


Sou uma alma antiga. Já viajei durante éons por incontáveis infinitos. 

Conheço ciências desconhecidas e os planos nos quais o universo foi concebido. 

Festejei com Deuses. 

Aprendi com Mestres. 

Vi futuros acontecerem até se tornarem antigos. 

Atravessei passados antes de serem esquecidos. 

Habito na palavra mistério, pois sou um segredo dentro da minha própria existência. 

Hoje, aqui, na carne humana onde estou encarcerado, medito sobre a grandiosidade de todo o meu ser, durante a pequenez deste instante ao qual chamamos vida. 

Não posso provar o impossível das minhas palavras, a não ser pela minha fantasia. 

Sei esta verdade, a qual me trouxe até aqui, com a certeza mais profunda de quem pode ser considerado louco. 

Ninguém inventou uma linguagem capaz de descrever o conhecimento inatingível que trago comigo. Mesmo se o pudesse fazer, todas as eras humanas não seriam suficientes para tal explicação. E pior, nem eu me compreendo, daí a inquietação. 

Nascer sem pertencer. 

Crescer sem me encontrar. 

Estar aqui mas não estar. 

O éter do pensamento é maior do que qualquer imensidão, imaginável ou não. 

Quero lembrar-me destas minhas viagens pelas dimensões do inacreditável, mas a mente não deixa e dói. Dói muito. Desde a pele à origem do meu eu. 

Tento rimar para sentir alívio. 

Os versos não surgem por qualquer motivo. 

Sobra a prosa disfarçada de poema. 

Admiro a arte dos outros, perdidos como eu. Sem mais nenhum idioma ao qual possam recorrer, escrevem, desenham, moldam, criam mundos, numa tentativa inútil de transmitir a gnose. Não estamos sozinhos, embora isolados dentro de nós sem a compreensão dos demais. 

Talvez o tempo não seja a melhor medida para quantificar uma alma antiga. Quem sabe, só a ilusão o possa fazer. 

Digo como sei, pois é a única maneira de o dizer. 

Falo para todos capazes de me entender. 

Como um grito a ecoar pelo silêncio aparente. Os sentidos ocultos escutam. Estão alerta em busca de uma qualquer orientação. Um sinal vindo do ventre cósmico onde nascem estas almas todas. Se é que nascem. Se é que são. 

Os religiosos, aqueles com verdadeira Fé, dirão que estas dúvidas são reflexo de uma centelha divina. Uma recordação de fazer parte do Uno e ao mesmo tempo uma frustração por estar afastado da génese original. 

Lembrar e profetizar em simultâneo. A concepção indizível, o caminho inefável do qual tanto falam as Escrituras Sagradas. 

Os virtuosos aceitam a sua ignorância como o caminho para a iluminação. 

Mas eu não. Prefiro a rebeldia dos artistas. 

A liberdade máxima de nada nem ninguém me possuir, a não ser eu mesmo, na pequenez da minha grandiosidade infinita. 

Continuo esta viagem pelos éons da fantasia a bordo da Nau da inquietude. 

Quem sabe, se encontro companhia. 

Um qualquer outro eu, refletido noutro rosto e noutra história. 

Coragem! A jornada é antiga e mais antiga é aquela que está por vir!


quinta-feira, agosto 01, 2024

Shame on me

Não tenho escrito nada de jeito, shame on me, mas manda a praxe que eu publique esta música pelo aniversário do blog! Pois seja! Fica a aguardar entretanto que as histórias apareçam, prosa, verso ou nada de especial! Feliz aniversário ao blog!