sábado, março 23, 2024

O Perfume do desdém


Tu, que és filho de ‘Fulano Tal’,

Meu amigo,

faz bom proveito disso.

Sobe lá para cima do teu pedestal.

Olha para baixo, sempre com desprezo.

Vê os pequeninos a batalhar, no imundo patamar, onde deambulam os inferiores.

Se te der volta à barriga, procura uma latrina.

Não te inibas de cagar, sobre a cabeça dos menores.

Pelo assento aberto, acomoda o teu cu elitista, e manda os intestinos defecar, em cima de quem olha para o ar.

Borra aqueles que se conformam, somente em te invejar.

Olha para eles, pintados de castanho, com a tinta mole das tuas fezes. 

Ri-te, grita alto para te ouvirem gargalhar. 

Encara isso como uma esmola: 

Poderem sentir o teu fedor, na mesma mesa que os alimenta.

Se alguém te vier incomodar, por causa do mau cheiro, dá-lhe um bocado de perfume, para aliviar o queixume e parar de te chatear.

Depois, 

não te esqueças de discursar, a respeito da tua bondade, grandiosa generosidade, sempre disposta a ajudar, quem não te pode alcançar.

Contudo, 

Devo avisar-te: 

Não te aproximes muito da berma! 

Escorregar é fácil e cair também. 

Eles podem apanhar-te, todos juntos assimilar-te.

Então,

Não vale a pena gritares, por ajuda lá em cima. 

Ela não vem.

Uma vez no andar de baixo, já não és conhecido de ninguém.

Toma ainda cuidado com outra coisa: 

Alguns deles acordam.

Sim.

Isso mesmo, abrem os olhos e como se não bastasse a ousadia, ainda conseguem aprender a voar. 

Quando deres conta, podem-te estar a sobrevoar, mesmo se estiveres no andar de cima.

Olha que voam bem alto! 

Mais do que podes imaginar! 

Alguns com vontade de vingar, o martírio que os fizeste passar.

Os céus pertencem a eles. 

Aos ousados,

Injustiçados, 

os quais alcançaram os ares. 

De voar, nada sabes. 

Já nasceste no topo, 

sem asas, 

nem vontade de explorar.

Não sabias que havia mais topo.

E ainda mais! 

Igualmente, têm necessidade de cagar. 

Quanto ao resto, já sabes: 

As fezes obedecem à lei da gravidade.

Quando deres conta, só tens tempo de lhes ver a sombra... 

Não preciso explicar como vai acabar.

De herói, a renegado. 

De gozão, a gozado. 

De chique, a borrado.

De castanho, pintado.

Se estiveres todo cagado, ninguém te vai querer cheirar.

Finalmente,

fica bem ciente,

o cheiro da merda é sempre igual.

seja de gente banal,

ou filho de ‘Fulano Tal’!



Dedicado aos meus professores do 6º ano. 


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