quarta-feira, fevereiro 04, 2015

O acontecer


Se te escrevesse um poema, não sei ao certo o que diria. Podia retractar a beleza das tuas feições. O traço irrepreensível que desenha o teu rosto. Os teus olhos profundos, da cor do arco-íris, que hipnotizam a inquietude que há em mim. A tua silhueta feminina sublimemente delineada, como se tivesses sido moldada pela própria perfeição. A tua boca que mesmo calada me chama a provar a sua doçura.
Quem sabe falar do salto que me fazes dar entre o desejo obsceno de te tomar o corpo, numa nudez faminta inimiga do pudor e a vontade de te roubar um beijo, como um miúdo inocente, na sua primeira paixoneta, com o tocar dos nossos lábios trazer o bailado das línguas e fazer-nos voar para outros mundos onde não existem impossíveis. Apenas uma mistura de sentidos erógenos, somente reservados aos deuses e aos amantes.
Ou então simplesmente amar-te como quem ama o infinito sem que o consiga descrever, num deslumbramento tão intenso que ofusca todo o resto, calando a razão, o mundo, as leis e a lógica. Somos nós, tão básico como isso, sem necessidade de explicações racionais, equações complexas, filosofias e outras doutrinas que nada mais servem do que aborrecer. Tudo está dito quando não há nada a dizer.
Acontecemos.
Não existe necessidade de poesia quando as rimas somos nós; o cântico a nossa pele; o encanto a nossa melodia; o êxtase a nossa arte…

2 comentários:

Imprópriaparaconsumo disse...

Acontecemos. Gosto de imaginar duas pessoas a acontecer. :)
Belo texto :)

Semblante das Dez disse...

Quando a rima somos nós, tudo acontece!
Muito bom ler-te.
Beijo