Hoje sinto-me triste. Parece que o mundo inteiro desabou em cima de mim. Falta-me a vontade para continuar e a solidão é quebrada apenas pelas lágrimas que me caem pelo rosto. Hoje sinto-me feliz. Parece que o universo tinha uma boa noticia guardada para me dar. Tenho novas ideias e novos planos. Estou cheio de energia e esperança não me falta para seguir em frente. Querido diário, hoje sinto-me apático. Não tenho entusiasmo nem tristeza, apenas existo. Observo os altos e baixos da vida e verifico que nada é constante. Mas congratulo-me porque a história é rica e as tuas paginas estão cheias de aventuras, com pessoas de todos os tipos, ódios, amores, triunfos e uma mão cheia de loucuras! E mesmo no marasmo de um dia de indiferença, afirmo com toda a certeza: Gosto de viver :)
O que é que me prende? A minha própria condição humana! Queria voar, brincar com as estrelas, criar universos, conhecer todos os segredos, domar o infinito… Porque inventaram a divindade? Para que eu viva numa prisão de inveja por algo inalcançável… Perguntam o que me prende? Eu mesmo. A minha imaginação, por mais ilimitada que seja! Quem me dera ter a liberdade dos simples…
De que vale dizer que a chuva é depressiva? Não é isso que a vai parar... De que vale queixar-me da tristeza? Não é isso que a vai destruir... De que vale tentar insurgir-me contra a natureza, quer do mundo, quer de mim mesmo? Cabe-me a mim aceitar que tudo é vida e eu sou pequeno comparado com todo o resto. Seja! No entanto isso não me impede de sentir momentos de grandeza, qual soberano perante o seu império, qual herói perante uma conquista! Pois os pequenos são donos das coisas simples e na simplicidade existe uma imensidão de virtudes. Portanto, que caia a chuva. Não a posso mandar parar. Amanhã raiará o sol e eu com ele. Saboreando o que é simples. Navegando a calma do momento. Recolhendo as recompensas que surgem na humildade. Sendo triunfante. Na grandeza da minha pequenez.
Cheira-me a caos! Tenho gosto a vida na minha boca! Oiço incontáveis energias em choque violento! Sinto calor e calafrios de prazer a atravessar o meu corpo raivoso! Vejo os teus olhos brilhantes a chamarem por mim por entre o desejo! Saboreio o suor, salgado, na tua pele arrepiada e sigo o seu caminho até à porta dos teus lábios carnudos! Deixo que os nossos dentes ferozes mordam, marquem, magoem, onde a dor se mistura com prazer entre gemidos desprovidos de pudor! Todos os nossos sentidos, físicos e etéreos, perdidos num emaranhado de sensações extasiantes que nos empurram um para o outro! E nós perdemo-nos neste limbo entre o animal e a luxúria, entre um desejo instintivo da carne humana e um poema erótico escrito com rimas proibidas!
Os potentes motores rugem como mil trovões em simultâneo. O seu som toma conta da terra impondo respeito. A nave, filha da sabedoria humana, escala os céus em direcção às estrelas, onde o cosmos parece infinito. Sobe, aventureira, imponente, afastando as nuvens que, temerosas, lhe abrem caminho. Atrás de si deixa o rasto de luz que a combustão provoca, tal como um trilho para o infinito. Segue destemida, desafiando a sabedoria de Deus, sem medo da distância que o espaço, frio e vazio, impinge. E nesse deserto negro, salpicado de estrelas brilhantes, vivem perguntas à espera de respostas. Que mundos coloridos se escondem entre o espaço e o tempo? Que vidas pensativas existem para lá da nossa imaginação? Vai, nave sem medo, junto com o meu pensamento, para longe do meu mundo, entre as entranhas do universo. Leva contigo a minha voz e um pouco da minha loucura nessa tua viagem pelos segredos da existência.