É a sorrir que oiço o som melancólico deste piano É como um convite a lançar-me neste frio e negro abismo Uma voz sem palavras que me impele para o fundo Provo as lágrimas de sangue salgadas que caem no meu rosto Abro as minhas asas impotentes ante este abismo Chegou a altura de me lançar Esqueço o medo, pois ele nunca existiu Limito-me a sorrir perante o meu fim
E se um dia eu dissesse adeus? Abdicasse de ideais E me entregasse aquilo que desprezo Esquecesse a hipocrisia à minha volta Neste mundo pútrido que me rodeia
Riscasse a palavra amor do meu dicionário Deixasse para trás a inocência que me resta Destruindo o mais ténue sorriso E levantasse alto uma bandeira negra Anunciando a beleza da morte
Seria algo belo Todos os seres malditos deste mundo Erguerem-se das trevas em que se escondem Unidos num só e único exército Feito de ódio e agonia
Rios de sangue inocente Brotassem da terra infértil Arrastando-se por entre as montanhas de cadáveres Num fantástico hino de destruição Dando lugar à pureza de um mundo aniquilado
Há demasiado tempo, Que tenho segredos comigo Há demasiado tempo, Que existem coisas que devia ter falado Num labirinto, anseio pela saída Ambiciono por encontrar uma razão Para encontrar o tempo, o lugar, a hora…
Anseio pelo sol de Inverno No frio brilho de um dia de Verão Os fantasmas construídos ao longo do tempo Pressionam os meus sentimentos Já não posso ficar mais afastado…
Tal como um bom actor Represento emoções bem forjadas Enquanto me esqueço do meu propósito Ignoro as verdadeiras leis da vida Sigo as leis da fascinação
Lanço-me com audácia para a realidade Que se soltem os ventos Que levem para longe os meus tormentos Lavem as ilusões E tragam sensações verdadeiras
Onde estou, Tenho asas que não podem voar Onde estou, Tenho lágrimas que não consigo chorar As minhas emoções estão congeladas Não vou conseguir sentir Até quer o gelo derreta
Já não tenho poder sobre isto As defesas que construí Querem desmoronar A verdade começa a invadir-me Já não quero me deixar dormir
Lentamente eu acordo Lentamente me ergo Abandono as emoções simuladas Dou lugar a experiências verdadeiras Sim, já não quero dormir
Vi a dama encantada que viaja através dos tempos e dos mundos, pelos sonhos dos homens. Era serena. Vestia um vestido longo, branco como a paz, de seda imaculada. Sorria na sua busca perpétua, tentando acalmar a sua ânsia. Os seus olhos brilhavam, como um cristal a reflectir a luz. Usava no dedo anelar, um anel muito antigo, feito na própria noite dos tempos. Montava um fantástico unicórnio alado de pelo dourado, que a levava onde ela queria. Ela era sonho e eu também. Ela desmontou do seu belo animal. Veio até mim e sorriu. Eu acariciei-lhe o rosto e sorri também.
Abominável Não consigo encontrar palavras Que consigam descrever o horror Vejo a hipocrisia a apoderar-se do mundo Esta sociedade é o excremento de um idealOcultada por uma mentira de valores Nauseabundo Sinto o cheiro pútrido do hálito dos falsos Enquanto proferem palavras dissimuladas Escondendo conteúdos hediondos Sorriem de forma abafada e podre Defecando o exemplo que dizem seguir
Intragável Vejo a lama repugnante da pocilga da falsidade Onde nadam os suínos gordos e satisfeitos Vejo instituições edificadas com bosta Arrasando sonhos edificados com apreço Tornando estrume o que devia ser vida
Aberrante Mentes distorcidas ditam leis limitadas Viciam-se em inveja e cobiça Recorrem ao básico para subjugar Ardem no fogo desesperante do ciúme Desabam sobre a força da ambição
Está no teu olhar Está nos teus lábios Está no teu toque sedutor Esse pecado cativante Que provo no teu beijo E oiço nas tuas mentiras Que sinto nos teus braços aconchegantes Onde descanso o meu coração Na ternura do teu abraço Numa doce entrega
Seduzes-me assim Estou certo que me vais presentear com toda a dor Com todo o júbilo do teu ser Deixas o meu coração abandonado à chuva Mas beija-me e não te vou perguntar O porquê de me banqueteares com toda esta dor
Abre-se uma nova porta Revelando um novo mundo Abrem-se umas novas asas Revelando um voo mais forte
Ergue-se a espada consagrada aos Deuses Novamente ouvem-se cânticos de glória A antiga história é apenas relembrada Morrem os velhos sonhos Nasce a nova realidade
Nasce um novo fogo Revelando um Mundo Oculto Cai uma nova noite Em que a Lua é Deusa
Jorra o sangue puro da ilusão Nasce um novo rio de agonia Num sonho oculto agora revelado Ergue-se o desejo ignorado Numa gloriosa chuva de chamas
Brota da terra uma nova árvore da vida Fazendo desmoronar a realidade Ergue-se do oculto um antigo império Forjado na sensualidade do sangue
Lágrimas salgadas trazem a felicidade Eleva-se nos céus da noite O som épico do voo da Fénix deslumbrante Eis o que se esconde no conforto das trevas Revelado aos olhos dos apáticos