domingo, outubro 02, 2016

Da terra de ninguém


Saí à rua apenas com a intenção de reparar nas pessoas que palmilham a cidade. Os seus rostos; os seus corpos; as suas vestes; as histórias que estão contadas nas suas expressões; as emoções que transparecem ou que escondem. Podemos aprender muito sobre alguém estando atentos aos pormenores da sua aparência. Cada detalhe vai narrando uma vida.
Vejo os que passam. Há-los para todos os gostos: os atarefados na sua correria; os que vão devagar para serem vistos; aqueles que na sua submissão param a cumprimentar os importantes; os distraídos que olham para tudo e para nada ao mesmo tempo que vagueiam nos seus pensamentos; os que caminham lentamente a tentar prolongar a existência…
Eu fico por aqui no meio entregue a minha realidade perdida. Observo cada ser humano com a sua particularidade: os bonitos; os feios; os indiferentes; os vulgares; e os outros demais…
Peço por favor ao destino! Quase que rezo a um deus qualquer para que me cruze com alguém parido do ventre da diferença. Que não se encaixe em estatísticas nem use o grilhão de um rótulo. Será que este é o mundo certo para este tipo de gente?
Corta-me a solidão com violência as entranhas do meu ser. A sorte cospe-me em cima cada vez que julgo encaixar-me num canto da sociedade. Escasso é o tempo que consigo viver a mentira de dizer que sou dali ou daqui. Sou de lado nenhum, da terra de ninguém, aquela que não consigo encontrar nem há quem me indique direcções!

2 comentários:

Imprópriaparaconsumo disse...

A procura constante do lugar certo para nós é o rastilho da infelicidade...

Unknown disse...

Talvez se aceitares a diferença dos outros, sem exigir que se assemelhem à tua diferença... Quem sabe?