Por momentos enamorei-me por uma estátua. Uma mulher desnuda esculpida na pedra fria.
Era tão mágica na sua imobilidade. Desprovida das falhas da carne e da pele, assim permanecia, coberta de encanto, sem o pecado da imperfeição. Era eterna na sua juventude. Sobressaiam as suas linhas esbeltas traçadas com mestria. Toda a sua silhueta era beleza, como só quem se alimenta de arte compreende.
Por breves instantes deixei-me fantasiar pela sua história que nunca aconteceu. Dei-lhe um nome, um sabor, uma idade, um viver humano onde pôde sentir como sente quem ama. Imaginei-lhe um sorriso a rasgar o desenho dos seus lábios quietos, bem como um olhar meigo a colorir o branco do mármore.
Presenteei-a com o desejo e com um toque quente no seu rosto indiferente. Ofereci-lhe tudo isso para vestir o seu silêncio e o seu movimento suspenso. Quem sabe se Deus lhe deu algum tipo de alma para que de mim se pudesse lembrar?
Invejei o escultor que a tinha concebido. Declarei-o maldito por ser capaz de criar tanta perfeição. Mas ele pouco importava. Imaginei todos os outros que por ela se encantaram e fui tomado de ciúmes. Senti desgosto por aquele corpo inerte não ser como o meu.Dei então conta que o meu devaneio já ia longo. Despedi-me daquela forma estagnada, já tinha servido o seu propósito de me fazer sonhar, e acordei. Estava na altura de seguir o meu caminho.
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