quarta-feira, julho 24, 2019

O homem de solidão


O homem de solidão entende o mundo de uma forma muito particular. Tudo devido à sua condição separada de todos os outros. Podemos considerar isto como um dom libertador; ou uma mágoa intensa; ou ainda, insanidade! Seja como for, no fim de contas, o mundo não se rege pelas mesmas regras para aqueles que abraçam esta sina.
O homem de solidão tem de criar a sua própria cultura. Ser o seu próprio “entertainer” e também a sua própria audiência. Ter a sua linguagem íntima e os seus ideais exclusivos. Devotar-se à sua religião, cingida à imensidão do seu Universo. Até a sua história particular deve ser distinta, sem que nunca tenha importado na perceção dos que estão cá fora.
O homem de solidão ri com frequência das suas piadas geniais, contadas com a mestria do sarcasmo do seu sentido de humor peculiar. A ironia que o mundo carrega é por si mesma uma fonte de inspiração inesgotável. Cada situação cómica, anima a plateia de diferentes versões de si mesmo que vão aplaudindo freneticamente entre gargalhadas choradas.
O homem de solidão tem por companhia apenas a sua criatividade. Esta é de facto a sua real amiga, pois a verdade com que interpreta a humanidade é cruel demais e, encarar esse facto dói exageradamente acima do suportável. Apenas a fantasia se destaca sobre qualquer outro pensamento, ausente de qualquer forma corpórea, ainda assim tão completa como a companhia deve ser.
O homem de solidão é, portanto, um profundo entendedor da melancolia, tudo devido ao seu saber de exímio observador. Aqueles que interagem com sã comunidade entre os seus pares, suportam esse fardo com a ignorância da suposta amizade. Acabam, esses, por ser alvo de alguma inveja pela ilusão que os alimenta, leve no sofrimento e confortável no afecto.
O homem de solidão não se conhece. Em vez disso recria-se a cada experiência vivida, aceitando o conhecimento adquirido como o único caminho para uma suposta felicidade. A sabedoria, apesar de toda a amargura que acarreta, serve tanto de isolamento, como de energia para a imaginação: força criadora e superior a qualquer regra imposta!

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