Há, no ser humano, um certo orgulho por ser capaz de pensar e dominar as emoções. Porém, existem situações em que os primeiros impulsos a surgir, são idênticos aos dos animais. Vejamos, por exemplo, o instinto de vingança. Quando uma situação provocadora de ódio surge em que penso eu de imediato, mesmo antes de tomar qualquer acção? – Vingança!
No mesmo instante, a minha mente é tomada pelos mais complexos planos de vingança. Dou por mim a ser testemunha dos meus próprios pensamentos e acho isso fascinante. Entretenho-me a observar todos os pormenores meticulosamente engendrados, sempre com toques de sadismo e surpresa, para que o sofrimento do alvo seja violento até ao auge da dita vingança!
Na realidade, há uma apoteose esperada no culminar da vingança. Há uma humilhação sentida. Há a dor desejada ao inimigo. Há a glória por alcançar. Existe toda uma arte de artimanhas e jogadas, que os génios da literatura vão explorando em histórias que se confundem com justiça. Toda uma trama dramática que se estende, quase em tom de aventura, ao falar de vingança!
Assumo toda a vingança que é traçada no meu raciocínio. Eu, na qualidade de observador de mim mesmo, sinto quase um certo orgulho por ser capaz de algo tão maquiavélico e ao mesmo tempo brilhante. Mesmo sem intenção de executar tais planos, porque felizmente impera o civismo em mim. Sem negar aquilo que sinto, confesso que por vezes me seduz a arte da vingança!
Grandiosos pecados que atravessam em segredo a nossa consciência. Estes, que forjados no ódio, combinam a nossa estratégia de bicho “superior”, com o intento primário animalesco de agir. Sentimentos ditos inferiores e dos quais supostamente “evoluímos”. Eu prefiro usar a palavra mistura, de divino e de fera, até ao “topo” da Natureza. Onde, supostamente, não existe vingança!
Não deixo de admirar a brutalidade dos nossos antepassados, que se livraram desta tentação insensível, com regras sociais e uma pressuposta justiça. Ainda assim, estas ideias mais básicas, mesmo com repúdio, ainda povoam a mente humana. Seja em segredo, ou em fascínio. Mesmo que, aparentemente, estas não tenham lugar neste mundo, onde, atrás de ideais nobres, ainda reside a vingança!
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