Quando observo uma mosca gorda, não deixo de ficar maravilhado pela engenharia do Universo ao criar os seres vivos. Cada pormenor, por mais ínfimo que seja, é pensado com toda a exactidão matemática para que possa ser completamente funcional. Qual, de entre todas as ciências humanas, pode rivalizar com a criação da Natureza?
No caso das moscas, destacam-se perante a minha curiosidade, sendo dotadas de asas para que tenham o prazer de voar (mesmo não entendendo elas tal dom como como superior). De certa forma, a ignorância acerca das coisas do mundo daqueles que caminham sobre duas pernas, faz delas um ser particularmente interessante.
Têm, como única sabedoria, a forma como obedecem aos seus instintos naturais. Aqueles que as fazem alimentar-se da nossa merda. Sem que o compreendam fazem, do que há repugnante para nós, a sua fonte de nutrição. Dizemos que estas são um insecto nojento, talvez porque encontram o seu sustento na nossa própria imundice.
Já sentiste a irritação de ter uma mosca gorda a passear pelo teu rosto, enquanto chupa a gordura que se vai amontoando sobre a tua pele? É quase irónico que a aquela barriga volumosa seja o resultado daquilo que te é sujo. Tu, que te dizes virtuoso em todos os sentidos. Nada é tão imaculado que não possa ser destronado, até por um simples insecto!
Aquilo que dizemos ser imperfeito, é fonte de vida para aqueles que apelidamos como parasitas. No entanto, para o motor do Cosmos nada é desperdício. Tudo tem o seu lugar e um propósito. Até aquilo que achamos ser mais baixo na nossa tão imaculada sociedade, entre leis, moral e uma suposta sanidade. Resumimos tudo a limpeza e excluímos todos os incómodos.
Entre as insignificâncias do existir, vão-se escondendo os segredos mais completos da verdadeira intenção cósmica. Observar faz-me chegar mais perto da compreensão absoluta (ou da ilusão de a poder ter). De qualquer maneira, encontro nestas constatações algum conforto com o qual amenizo o desassossego. Uma simples mosca gorda pode guardar os mistérios mais ambicionados do Universo e isso, só por si, é fascinante!
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