Estranho. As coisas mudam quase radicalmente com o passar do tempo. Revisitei-te por acaso e encontrei em ti tamanha mundanice que não deixei de sentir uma certa nostalgia acerca dos tempos em que eras o objecto central do meu fascínio.
Olhar-te foi como assistir a um anúncio comercial. Não encontrei em ti mais nada a não ser uma propaganda a um produto qualquer que promete beleza. É estranho, volto a repetir. Olhar para ti e ter essa percepção indica que eu mudei; que tu mudaste; que ambos mudamos e que o mundo mudou connosco. Ou talvez não. Provavelmente o mundo continua igual ao que sempre foi, apenas com uma aparência diferente.
Tu deixaste-te absorver pela oferta dos pequenos confortos do dia-a-dia. Eu dediquei-me ainda mais a estudar a toxicidade que o conformismo traz à alma. Ninguém pecou. Nenhum de nós está errado. Simplesmente fizemos as nossas escolhas (ou elas nos escolheram a nós). Depois disso foi apenas uma questão de seguir caminhos que se foram distanciando. Nada mais.
Aliás, atrevo-me até a dizer que é das histórias mais comuns que existe na interacção humana. As pessoas afastam-se. Os ideais alteram-se. O passado torna-se apenas numa coisa que faz parte de nós, mas já não nos integra. Sei que compreendes bem isto. Já compreendes esta verdade como parte integrante da nossa condição.
Sabes que não sou dado a grandes nostalgias, por isso, é com alguma surpresa que esse sentimento vem ao meu encontro. Suponho que não vai durar muito e no final destas palavras, talvez já tenha até desaparecido.
Creio que a justificação desta nostalgia, esteja nas aventuras que vivemos juntos em palavras ditas e sentimentos traduzidos. Narrei o teu medo com ternura e compaixão. Descrevi as tuas pequenas grandes conquistas com enorme entusiasmo. Vi-te crescer para fora da criança assustada que costumavas ser.
Agora que penso nisso, a profundidade desses momentos é, sem dúvida, marcante. Pelo menos para mim, que gosto de me perder nos sentimentos dos outros e fazer deles uma espécie de poesia onde se possa viver.
Já sabes que a realidade, só por si, não me basta, preciso de me rodear por beleza, ou pelo seu oposto. Estar no centro serve apenas de aparência para os olhos daqueles que se dedicam a julgar. São tantos. Não os culpo. Foram educados assim, tal como nós, para fazer parte de um todo que supostamente nos devia completar e oferecer a tão prometida felicidade. Como isso não acontece perdem-se a apontar os dedos aos outros como forma de passar o tempo.
Com estas palavras estou também a julgar. Convenço-me que se trata de uma constatação embora, na realidade, tenha perfeita noção de que se trata de um julgamento. Enfim. Hipocrisias da existência...
Suponho que agora também encontras algum descanso quando ligas a televisão e te perdes nos programas de entretenimento ao domingo à noite. Gente a fazer coisas de gente, com palmas e apresentação entusiasmada. Ficam contentes por aparecer em horário nobre. Mendigam alguns momentos de fama com a insignificância que tanto veneram.
Mas agora todos temos palco nas redes sociais. Desfilas sorridente nas fotos que publicas em poses da moda. És tu, mas podia ser outra pessoa qualquer. Uma foto é inesquecível até ao momento em que é original. Quando toda a gente decide fazer as mesmas poses, nos mesmos sítios, a repetição transforma-se em aborrecimento. Uma cópia de uma cópia, de um original que já ninguém se lembra. És tu, mas podiam ser os outros. Sem nada mais a acrescentar a não ser o teu nome que, continua a morar em mim com um certo carinho.
Agora fiquei mesmo curioso com a sensação de nostalgia. Talvez agora nem seja ainda um sentimento, em vez disso, transformou-se numa fonte de criatividade para transcrever estes pensamentos introspectivos.
Na verdade, já não estou a falar de ti, mas de mim. Narro-me a mim mesmo.
Peço-te desculpa por já não seres o centro da minha atenção, embora me interrogue se também sentes a mesma nostalgia? É provável. Contudo não me importo. Sabes que eu quero mais do que apenas uma publicação patrocinada por um produto qualquer.
Creio que me estou a repetir de narrações anteriores. Sou vítima da minha própria crítica.
Continuando, estou feliz por ti, acredita que sim. É sempre bom encontrar o nosso lugar no mundo. Mesmo que para isso a identidade que um dia fez a nossa diferença acabe por não ser a mesma que outrora cativou.
Mas tenho de te dizer uma coisa: não é a mim que tens que cativar, mas sim a ti! Sobretudo a ti!
A minha opinião sobre a tua vida pouco importa. Não sou eu que habito o teu corpo, nem aprendi com as tuas desventuras. Não estou no teu lugar. Portanto, no papel de observador, não cabe em mim dizer como deves ser. És como és e isso basta.
Já eu, sou como sou e longe de mim querer impor a ditadura do meu pensamento sobre a tua liberdade.
A mensagem de hoje é esta! Vale para ti e vale para todos! Cada um é como é. Resultado das suas escolhas e aprendizagens. Seja conformista, ou não, a escolha é sempre de cada um e mais ninguém!
2 comentários:
Sabe, fiquei a pensar quando diz que a realidade só por si, não lhe basta. De facto, acho que fomos configurados para nos acomodarmos e "sermos felizes" com o socialmente aceite.
Sou muito inocente, sinto que sou, no sentido de acreditar piamente nas coisas e nas pessoas até prova em contrário. Mas com os beliscões da vida, vou-me apercebendo de tanta gente acomodada e infeliz, em nome de cumprir o que querem que cumpram, em nome do que é bonito... Quando assim é, não há felicidade nenhuma.
Quanto às suas duas últimas frases, também ficou aqui a martelar, onde é que acaba a liberdade de cada um ser como é, quando há vida e sentires em comum? O deixarmos de fazer pelo outro ou gostarmos que o outro deixe de fazer por nós, é tirar a liberdade ou são adaptações de feitios em função de algo maior em comum? Mas onde está o limite de uma e outra coisa?
Os testos e as panelas humanos nunca encaixam totalmente sem se limarem arestas. Mas... será isso tirar a liberdade do outro ser o que é?
Tarde boa e sorry por vir para aqui divagar.
Este é o sítio correcto para divagar. 90% das coisas aqui escritas são divagações. A fantasia é uma forma de escape à moda.
Seremos sempre inocentes faca aos mistérios do universo. Ter consciência disso é um passo importante para crescer como ser humano.
Quando vivemos em sociedade, ou em união, com outros estamos a fazer uma escolha para que assim seja. Não vamos confundir escolhas com limitação de liberdade. Embora, tenhamos de ter o discernimento para distinguir a diferença entre as duas...
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