Por vezes cruzo-me com a minha "alma gémea". É inevitável. Sinto-a como um chamamento. Algo magnético que nos impele para o mesmo olhar. É aí, quando os nossos infinitos se cruzam, escondidos atrás de um rosto de feições humanas, que nós percebemos que aquela é a nossa suposta “outra metade” como dizem os românticos.
Ainda que esse encontro dure ínfimos fragmentos de segundo, temos certeza de que ele acontece. Não apenas uma, mas inúmeras vezes, sempre em faces diferentes. Sou eu que me cruzo contigo; és tu que te cruzas com o outros; são os outros que se cruzam comigo. É como uma rede de encontros momentâneos, sem futuro, embora intermináveis com o mistério que trazem.
Nas nossas diferenças, somos todos parte do Uno. Fragmentados pela nossa sina humana, onde os instintos assumem um papel fundamental. Buscar outro que possamos entender como igual é apenas um deles. Tenho a certeza que os entendidos nas ciências da evolução, arranjam uma explicação para isso. Algo frio. Palavras complicadas que elucidam este enigma, sem romantismo, apelando apenas ao lado mais animal que habita a nossa carne.
Existir torna-se tão vazio quando compreendemos aquilo que nos programa. É triste. Esta história da "alma gémea" perde a beleza por completo. É tão pouco ser apenas humano. Não é?
Pessoalmente fico baralhado. Falar em "alma gémea" parece até algo incestuoso quando todos somos prole da mesma intenção. Aos olhos da ciência amar é tão pouco. Tão inútil. Somente uma espécie de sobrevivência sem qualquer intenção de ser algo transcendente. Nada que mereça ser transcrito em poemas ou romances que almejam a eternidade.
Não existe a "alma gémea", existe sim a ideia de "alma gémea". É só isto e é tão pouco. Queremos mais, mesmo que seja só ilusão, porque tão pouco não basta. Então amamos: os corpos, as almas, os sonhos, o etéreo... Sem deixar que a insignificância tome conta de nós!
1 comentário:
Mas talvez a insignificância de que fala, preenchendo-se com amor deixe de o ser. Pelo menos enquanto dura :) Será por isso que as pessoas procuram almas gémeas, para disfarçar a insignificância da vida? Creio que não, nem pensam nisso...
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