Digo-te a verdade como quem confessa um pecado. Ouves e respondes que compreendes. Além disso, acreditas que é assim que deve ser. Ofereces-te em plenitude, carne, fome e alma, tudo meu. Só me pedes em troca devoção. É tua!
Numa ausência de pudor, concedo-te a honra de querer fazer do teu corpo a tela da minha arte. Pintar a tua pele em tons de vermelho agreste. Riscos pincelados por desejos violentos, proibidos e hereges, ainda assim reais como nós dois.
Escutar, nos teus gritos de agonia, uma composição sinfónica. O estalar implacável do couro a impulsionar sem misericórdia os limites da dor. A tua voz tremida a implorar (falsamente) um pouco de compaixão que sabes eu não ter.
Vais-me provocando e inebriando a cada gemido. Insinuas-te com pedidos de tormenta, enquanto te entregas com submissão ao teu Mestre e Senhor. Mostras-me que és superior ao medo e eu gosto. Quanto mais severo melhor e tu sabes.
Não me acanho em dominar-te. Devoto-me para ti em tudo que sou. Reverencio-te entre as torturas perversas que te administro. Essas, que só tu conheces, nascidas no poço mais negro da minha imaginação. As lágrimas não te quebram e a cada recuperar de fôlego suplicas por mais. Dou-te!
Aceito o desafio. Transformas em jogo o que é perigoso. Já não é luxuria, é guerra! Talvez, quem sabe, até exista ali um profundo acto de amor. Tanto faz. É indiferente. Seja o que for não recuso e retribuo. Inflamam-se os instintos e tem de haver um vencedor. Tu ou eu?
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