Amava eu, sem saber, o impossível. Até que o teu corpo apareceu e o confundi com o próprio Cosmos. Perdi-me durante algum tempo nessa ilusão. Não passou muito até que conhecesse as tuas curvas, vielas ou arestas. Transformaste-te numa ausência de novidade. Depois ficou tudo tão aborrecido e não tardou até querer mais mundos a descobrir.
Foste embora. Ainda assim não demorou até que voltasses, com outro rosto, outra voz e outra pele. Desta vez não foi a carne que me cativou. Tinhas lá dentro, atrás da cor, do toque, do aroma e sabor, algo que só um sentido oculto podia conhecer. Chamei-lhe poesia e entreguei-me nas estrofes. Foi lindo até que te começaste a repetir. Deixaste-me viciado e já não chegavas, queria mais de ti.
Mas tu tens muitas aparências e chamei-te continuadamente para te conhecer sem fim. Vieste, sempre sem te copiares. Uma nova viagem desconhecida. Um novo cântico original. Percorri os caminhos, decorei os pormenores e estudei a tua ciência. No entanto, não demorava até seres tédio. Transformavas-te em algo enfadonho, impossível de suportar para a minha inquietude.
Como qualquer adicto, tive noção da minha dependência por ti. Contudo, eu, indigente, admito que não tenho forças, nem desejo de abandonar esta minha degradação. Portanto, continuas a chegar no teu infinito. Tu, nas tuas versões incontáveis, tornas-te tudo que ambiciono. Eu, igual a ti, nos outros tantos de mim. Como um, parte dum todo sem o saber. Acusa-me de desassossego! E eu não nego que amo o impossível!
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