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domingo, novembro 17, 2019
Afinal de contas
Um porco gigante viu uma cidade ao longe. O ruído que dali advinha chamou-lhe a atenção e aproximou-se entre grunhidos curiosos. Os prédios levantavam-se da terra, diferentes de qualquer rocha ou planta que conhecia. Entre eles, dispersavam pequenas criaturas a guinchar. Não lhes deu grande importância para além do interesse natural que o impeliu até àquele lugar barulhento. (Afinal de contas, o que é que um porco, tenha ele o tamanho que tiver, percebe de construções e vivências humanas?)
As pessoas, essas, dotadas de compreensão, atemorizaram-se pelo tamanho desmedido do animal que se aproximava. Como bichos que também são, submeteram-se aos instintos mais básicos e, possuídos pelo medo, fugiram em corrida desesperada, ao som dos gritos inúteis de socorro escutados por ninguém. Os automóveis, com a sua velocidade, de nada valiam, quando as estradas que os albergavam ficaram obstruídas pela confusão atropelada. (Afinal de contas, o que é que um ser humano pode fazer contra um suíno de proporções monstruosas?)
O porco, que não compreendia aquela organização, baixou o seu focinho e foi derrubando, sem grande resistência, todas as construções que se encontravam no seu caminho. O que não caía com a investida frontal, não resistia ao balançar do seu traseiro. Já debaixo das suas patas, veículos, tijolos, ou carne, eram esmagados de igual forma. O som de crepitação e ranger era, de certa forma, divertido aos ouvidos do animal, que, entretido, lá continuava o seu percurso. (Afinal de contas, um porco, não tem qualquer remorso, ou discernimento entre o bem e o mal, ainda menos manter respeito por leis humanas!)
As pessoas, na sua pequenez, não conseguiam correr o suficiente para escapar à incursão violenta. Se não ficassem esmagadas debaixo do tamanho colossal daquele invasor desastrado, encontravam a sua aflição debaixo dos escombros. Mesmo aqueles que se esquivavam destes destinos, haviam de ser abocanhados pela besta, que com eles saciava a sua fome depois de os mastigar convenientemente. Aqueles que tinham fé, lá se iam confortando nas preces que libertavam. (Afinal de contas, os seres humanos nada podiam fazer contra as surpresas da natureza, a mesma que julgavam conhecer!)
O porco, continuava na sua brincadeira de destruição. Quando algo não cedia à força do seu peso, não hesitava em morder até que caísse. Por vezes cheirava as pequenas criaturas barulhentas e caçava-as com a boca. Triturava-as com os dentes e sentia a sua textura crocante antes de as engolir. Os seus passos prosseguiam devastadores, até que conseguiu arrasar a cidade. Para ele todo aquele cenário fazia muito mais sentido assim, um amontoado de entulho que se confundia com o resto da paisagem natural. Apenas mais um monte de terra, como todos os outros que se avistavam pelo horizonte. (Afinal de contas, um porco, tenha ele o tamanho que tiver, não tem qualquer entendimento pela evolução humana! E porque haveria de ter?)
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