sexta-feira, setembro 04, 2015

Debaixo da cama


Não consigo adormecer. O silêncio e a noite escura serenaram o mundo. As pálpebras cansadas querem dormir e levam-me para o conforto dos lençóis. Mesmo assim, um medo irreal, quase infantil, tomou conta de mim e não deixa que me entregue ao sono.
Creio que debaixo da cama está um monstro. Um ser grotesco com aspecto de réptil. A cabeça é como a de um crocodilo que espera atentamente a caça da sua presa. Os braços são compridos e finos, quase elásticos, prontos a segurar a minha mão caso queira acender a luz da cabeceira. Pelo menos assim o julgo ser, pois entre a penumbra do quarto e o terror que se apossou de mim, quebrou-se-me a coragem de encarar a criatura. O pavor crescente faz com que me retroceda quieto escondido na segurança dos cobertores. Mantenho-me calado, sem emitir qualquer ruído que possa despertar a aberração.
Nestes minutos longos de insónia sombria, imagens bizarras passeiam pela minha mente como personagens sinistras de contos assombrados. As sombras que se destingem no escuro deformam toda a arquitectura do meu quarto. Fazem-me questionar se são espectros de aparência hedionda que me observam, tendo para mim intenções de pura perversidade!
A lógica diz-me que é tudo mentira, são apenas fragmentos irreais que povoam a minha imaginação. No entanto o medo cresce em mim como um vendaval, deitando abaixo qualquer muralha de sanidade que possa existir, sobrepondo-se à razão que me diz ser impossível que algo esteja ali, debaixo da minha cama, pronto a devorar-me. Os dentes começam a bater descontrolados e as lágrimas querem sair, obedecendo ao caos em que se transformou o meu sistema nervoso. A demência sabe como vencer a audácia…
– Por favor quero dormir! – Peço a qualquer anjo que esteja à escuta. Nada nem ninguém me vem salvar da minha própria irracionalidade. Sou apenas eu, o medo, o escuro, o terror e a loucura! Tudo embrulhado na demência da minha fantasia. Isto não pode ser real, tenho de escapar desta ilusão. Haja coragem...
Reúno todas as forças e num momento épico de bravura estico o braço velozmente para acender o candeeiro. A luz mostra a verdade. Não há lá nada. Apenas o meu quarto, o silêncio e a noite. Não existe nenhum monstro que me quer devorar. Só o meu corpo cansado e a minha mente que continua assustada como a criança que há em mim...

1 comentário:

Maria Eu disse...

Os monstros estão dentro de nós, não fora. Se bem que há alguns homens que nos rodeiam que poderiam ser classificados como monstros.

Boa noite, António. :)