terça-feira, setembro 15, 2015

Quatro patas


Um cão passou na minha rua. Não tinha trela nem se avistava alguém que pudesse ser seu dono. Ia decidido, caminhando até com alguma pressa. Chamei-o com um assobio e uma promessa de festas. Ele olhou para mim de esguelha, como quem cumprimenta por favor e seguiu o seu caminho sem me dar importância. Não me ligou! Mais à frente parou para cheirar umas flores. Pensei até que fosse alçar a perna, mas enganei-me, não se demorou. Foi breve e retomou a sua marcha, pronto e determinado. Com toda a certeza sabia exactamente para onde ia. Onde é que se já viu isso? Um cão sem dono que sabe para onde vai!
Movido por uma certa curiosidade senti-me tentado a ir atrás dele. Seguir o bicho para conhecer o seu destino. Acabei, no entanto, por abandonar a ideia. Também não me questiono para onde vão as pessoas. Seguem a sua vida, tal como eu e tu. Nada tenho a ver com isso. O cão tem o mesmo direito de palmilhar o seu caminho mesmo em quatro patas, sem coleira nem trela e muito menos dono para lhe impor um rumo.
Por vezes há em mim um desinteresse tão grande acerca das coisas banais e mundanas que faz com que eu não aprecie os pequenos momentos, até mesmo em coisas surpreendentes, como aquele cão que sabe para onde vai, caminhando decidido como um humano qualquer...

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