sábado, julho 26, 2014

O povoado


Gosto de cruzamentos. De ficar parado neles a pensar para onde vou quando rumo sem sentido. Deixo o tempo passar devagar enquanto o automóvel aguarda a minha decisão. Esquerda, direita ou em frente?
Escolha difícil quando não conhecemos o destino e nem temos pressa.
Enquanto não decido deixo a minha mente divagar para lugares longínquos e os meus olhos vão correndo o horizonte.
Ao longe vejo um povoado. Não consigo identificar ao certo a distância, nem o tamanho. Diria que é uma vila pequena, ou média talvez. Podia ir ao Google Earth descobrir que vilarejo é aquele, mas não me apetece. Isso seria estragar um pouco a magia daquilo que estou a observar. Prefiro imaginar como será. 
Interrogo-me: quantos habitantes tem? Quem são eles e o que fazem? Os seus rostos, idades e histórias? Há tanto por onde perguntar acerca de desconhecidos. 
Creio que devem haver por lá três ou quatro pessoas interessantes. Gostava de me sentar com elas à mesa dum café ou esplanada a conversar.
Suponho que lá existam cafés com esplanadas também. Pessoas que se sentam em volta de uma mesa a discutir trivialidades da vida. Futebol, politica, cusquices… Ou então, filosofias mais elaboradas, o meu tema favorito, devo dizer. É um pouco o meu vício, gosto de filosofias elaboradas. Daquelas que surgem numa conversa e de lá não saem. Era isso que gostava de falar com esses três ou quatro. Saber aquilo que eles acham da vida num sentido metafórico.
Talvez um dia vá lá. Hoje não. Tomo nota do local mentalmente para uma hipotética viagem no futuro.
Por agora aproveito este momento a sós com a estrada vazia, com a escolha do cruzamento, comigo mesmo. Ninguém sabe ao certo o que sinto, ou o que quero sentir, ou o que deixo de sentir. Ou o que sou…
Acho que a minha maior diferença é gostar de observar. Passar despercebido sem que me despercebam. Deixar os meus pensamentos escondidos, como uma vida secreta, só para o meu conhecimento, ou de uns poucos que comigo privam de quando em quando.
No entanto a minha atenção continua naquele povoado e nas suas gentes. Podia lá ir. Mas no fundo sei o que ia encontrar. Mudavam os rostos, o cenário, mas as histórias continuavam semelhantes. Seria mais uma terra como as outras, como esta, como a minha, como a tua…

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