A noite foi surgindo de mansinho anunciando o momento. O caixão abriu e o vampiro acordou. O seu primeiro pensamento foi de desejo, tal como tinha sido o último antes do nascer do sol. A imagem de rosto angelical e traços femininos invadiu-lhe a mente e desejou. Não como um monstro anseia a sua presa, mas como um homem deseja uma mulher. Era assim desde que olhou para ela.
Queria apenas o seu sangue mas tudo que conseguiu sentir foi uma paixão infindável. Como se o seu coração bombeasse novamente calor e o seu cadáver fosse capaz de enfrentar o sol.
Amava…
Mas como pode ele sentir isso? Se já perdeu a sua humanidade há muito tempo. Demasiado para se lembrar de como é ser humano, quanto mais amar.
Então, porque é que ele a deseja?
Será capaz, de no mais fundo abismo negro do seu íntimo, sentir amor?
Sendo assim, será que existe redenção?
Não!
Foi Deus que o amaldiçoou com aquele castigo de amar sem o poder fazer. Que tortura insuportável era aquela. O desejo constante de beijar aqueles lábios quentes com a sua boca fria. Tocar aquele corpo rosado com as suas mãos desprovidas de vida. Para sua agonia apenas podia desejar!
Que saudades de quando era apenas um monstro. De matar! Destruir! Beber o sangue! Rasgar a carne com as suas presas! Desprovido de qualquer tipo de remorsos!
Sem dor. Sem medo. Sem castigo!
Ou pelo menos ele pensava assim. A sua punição não tardou a chegar e, para seu desespero, não podia ter um destino mais cruel. O mais terrível dos juízes sentenciou-o a uma condenação pior do que ao inferno.
Amar…
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