Setembro é um mês agridoce. Tem no seu ventre o conforto caloroso do verão e em simultâneo abre as portas do outono e traz consigo os primeiros dias invernosos. No entanto esta história aconteceu no fim de um dia quente. Quando a noite começa a cair e as primeiras estrelas convidam a olhar o céu.
– "Gosti" – disse com uma certa meiguice que só ela sabia ter.
– Como quem gosta de quê? – Questionou ele, não porque duvida-se, mas porque gostava de viajar nas palavras dela.
– Como quem gosta da lua cheia. – Respondeu sorrindo, sem timidez.
– Desenvolve. – Insistiu ele com alguma frieza, tal como seria interpretada por quem não o conhecesse.
– Daquelas gigantes que hipnotizam! – Concluiu ela.
– Já eu, gosto de ti como uma ilha deserta. Daquelas com praias fantásticas e florestas supertranquilas. Mas depois, quando começamos a explorar, vamos encontrando vários mistérios cativantes. Tipo aquela ilha de "Lost". – Disse ele narrando as palavras de forma a dar corpo ao sentimento.
– Ganhaste no desenvolvimento. – Comentou ela refugiando-se no sorriso.
– Também podias ter desenvolvido mais. Se quiseres continuar eu não me queixo… – Lançou-lhe o desafio, apesar de saber que seria difícil obter a continuação, já que as suas confidências são raras.
– Agora não. Tenho de ir […]. – Deixou de a escutar no momento em que disse que tinha de fazer uma mundanice qualquer. As banalidades do mundo sempre foram demasiado aborrecidas para ele. Principalmente na companhia dela.
Contentou-se com a resposta expectável. Já sabia que ela era assim, fugidia. Chega, deixa o mistério no ar e depois vai embora com um pretexto qualquer. Não se importou em demasia. Tinha conseguido que ela lhe oferecesse um pouco do seu tempo gratuitamente. Isso para ele era muito.
A conversa talvez continuasse depois, num dia qualquer, noutro momento em que a poesia estivesse presente na decoração da natureza. Ou então, quando os sentimentos tentassem enganar a inquietude e tomassem as palavras por escape.
Contemplou o anoitecer. Não é preciso ser poeta, ou artista, para interpretar a beleza das estrelas no céu a brilhar numa noite amena. Basta gostar da tranquilidade que vai surgindo como recompensa depois da confusão dos afazeres humanos.
De certa forma aquela conversa continuava, silenciosa e distante. Como tantas outras que aconteceram antes. Pintada no cenário sossegado da noite que cai e das estrelas que cintilam ao fazer viajar a imaginação...
1 comentário:
Gostei muito! Fez-me sorrir!
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