quarta-feira, outubro 30, 2019

Prece sem destino concreto


Rezei a um Deus desconhecido. Aqueles que já conheço, têm tanto de humano que até dói, tornando inútil qualquer crença no seu nome.
Deixei que as minhas palavras, impulsionadas pelo pensamento, atravessassem as estrelas até aos confins do cosmos. Muito para lá do que a imaginação pode sonhar, ou que a ciência encontrar. Tinha esperança, de que nesse recanto impossível, resida uma entidade, real ou não, acima de todas as outras, que me possa escutar com a caridade benevolente que as divindades prometem a um simples homem como eu, na senda do dia-a-dia.
Em dias como este, em que a pequenez se agiganta e as forças são ridículas ante a vontade soberana do Universo, peço um conforto ou uma ponta de alegria. Nada de impossível a quem determina os desígnios do inefável. Somente um toque de generosidade sem mendigar em demasia.
O martírio da sabedoria, que se apresenta disfarçado de bênção, é um fardo pesado de carregar nas alturas em que a solidão se mostra vazia. Quando assim é, urge descobrir coisas novas. Nem que seja numa prece sem destino concreto.
A resposta que aguardava veio com a própria questão. O desconhecido manifesta-se numa procura incessante com ânsia inquieta. Nada mais há a desejar, a não ser isto: gnose e poesia, onde os sentimentos dançam nas diferentes interpretações de quem, na sua inocência, ou loucura, os tenta descrever sob a forma de linguagem.

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