terça-feira, dezembro 12, 2017

O enigma da humanidade


O que entendes por ser humano?
Ter dois braços; duas pernas; um rosto que tenha herdado os traços de Adão; saber falar; entender ter algum tipo de inteligência?
Ou é no pensamento que se esconde realmente o ventre da humanidade?
Poderá um ser, oposto à aparência pré estabelecida, dizer-se humano apenas porque sabe discernir no seu pensar que possuiu esta característica?
Pergunta inútil. Para além dos animais nunca encontrei nada, vivente ou não, que pudesse dizer-se como tal. Nem tenho a certeza de que, quando os bichos falavam, como nos contos de fadas, eles quisessem essa denominação. Quiçá fosse insultuosa, para quem nasce dito irracional.
Tudo isto surge como uma interrogação sobre o meu lugar no universo, na sociedade, e no meio dos homens, com a sua mania extravagante se engrandecem acima do seu estatuto de carne e osso.
Observo-me com os olhos da criança aventureira que um dia fui e a vida sabe a pouco.
Revejo-me também com a benevolência do sábio que um dia serei e encontro alguém a percorrer o seu caminho.
Sinto-me rodeado de frustrações e alegrias, duvidas e certezas, ódios e amores. Uma constante dualidade de sentimentos, como deve ser, afinal, a senda humana ao escrever a sua história.
Sou uma ínfima parte de um passado remoto, para um futuro que está por acontecer.
Reduzo-me a nada na divindade com que me falsearam. Ao mesmo tempo transcendo-me ao infinito na gnose que tanto busco. Nada em mim é perfeito embora seja fruto da perfeição absoluta.
Sou insignificante como uma partícula de pó. Simultaneamente sou grandioso, como quem se eleva na imensidão de um pensamento profundo.
Aqueles que na solidão encontram um refúgio compreendem o que digo. Pouco mais tenho a acrescentar. Cada um de nós percorre a sua sina entre a dor e a felicidade. Uma sinfonia feita de momentos.
Por vezes acontece haver instantes de absoluta clarividência. Um deslumbre de pura sabedoria que dura apenas o elaborar de uma pergunta. Todas as respostas trazem os seus segredos. Assim aprendemos sobre nós, os outros, o mundo e tudo o resto…

2 comentários:

Unknown disse...

Um dia disse a alguém que era perfeito na sua imperfeição, porque encaixava perfeitamente na minha. Respondeu-me que nos imperfeiçoamos.
Julgo que foi das coisas mais belas, puras e, atrevo-me a dizê-lo, perfeitas, que já ouvi.

António Silva disse...

Atrevo-me a concordar...