segunda-feira, dezembro 18, 2017

Abismo e prazer


O corpo da mulher deve ser divinizado por quem o contempla com os olhos de um poeta. Esculpido, colorido, cantado, rimado, louvado, tal como deve ser no seu estatuto de manifestação sagrada!
Da mesma forma, tem de ser paganizado por quem o apetece com os olhos do desejo. Sem virtude, expulso do paraíso, arrastado até à terra, sinónimo de devassidão, tal como deve acontecer na sua forma pecaminosa!
Entre os extremos destes dois caos, vai-se desenhando a essência feminina. Para aqueles que, na sua eloquência, ousam assumir o papel de amantes da carne e da alma destas criaturas, resta-lhes o abismo e o prazer.
O vestir, a nudez e a intimidade. Várias camadas de sedução, que se abrem em convite da sua descoberta, àqueles que o queiram (ou ousem) aceitar. Cores de uma pintura, traços de um desenho, silhueta de uma escultura, versos de um poema, belo como uma flor que brota na Primavera, imenso como um mundo oculto a explorar.
Felizes os que dominam a arte e o animal. Tomam as rédeas do espasmo que grita na pele. Bebem o sabor agridoce que se solta do veneno. Entram na porta do inferno, encorajados pelo calor do fogo da luxúria.
Depois há o olhar. Comprometido, tímido, convidativo, provocador, como janelas para a alma da mulher. Ser de carne com dom celestial. Onde se perdem os sexos e a vida floresce. Aventureiros, poetas e mansos, sabem que podem, no mesmo nome da perdição, encontrar o paraíso…

2 comentários:

Unknown disse...

O corpo feminino fala por si. Bem-aventurado é aquele que o escuta!

Patife disse...

Tantas saliências e reentrâncias... ;) Só curvas e eu sem travões. ;)